sábado, 23 de agosto de 2008

Telmatochromis sp. “temporalis shell”

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Este pequeno ciclídeo proveniente do lago Tanganyika, medindo no máximo 7cm (4cm para a fêmea) é muito raro aparecer nas lojas portuguesas e a informação existente na internet também não é muita. A informação que é habitual encontrar-se é quase exclusivamente relativa a experiências de aquariófilos.
Pode-se dizer que o T. temporalis shell é uma forma anã do T. temporalis (Poll, 1946) já que a principal diferença entre eles é o tamanho. No entanto, e muito provavelmente devido a esta diferença, o T. temporalis shell tem comportamentos diferentes no que respeita ao seu habitat preferido para viver e se reproduzir.
Pode ser encontrado em quase todo o lago Tanganyika, no entanto os que se têm capturado são provenientes de do Sul do lago (Sumbu, Mbity), na costa central (Karilani Island), e ainda no Norte (Nyanza Lac).
No seu meio natural ele vive em campos de conchas mortas de Neothauma e usa-as para se proteger e procriar, ao contrário do T. temporalis que vive em zonas rochosas e usam as cavidades entre elas para se protegerem dos predadores e para procriarem.
Deverão ser mantidos numa água bastante alcalina e dura, à semelhança de outras espécies provenientes deste lago, e a uma temperatura de 25 a 27 ºC.
A minha experiência com estes pequenos ciclídeos começou quando em Outubro de 2004 (Feira de Vichy) comprei alguns indivíduos ainda de tamanho reduzido. O seu crescimento foi bastante rápido e depressa consegui ver um casal formar-se e começar a distribuir porrada em tudo o que mexesse. Não toleram ninguém perto da concha onde fazem o “ninho” mesmo indivíduos desta espécie. Peixes robustos como os “plecos” ou os “limpa vidros” têm dificuldade em resistir aos ataques destas “feras”.
Actualmente mantenho um casal, o macho com 6cm e a fêmea com 4cm aproximadamente, num aquário de 60Lts (60x35x35), onde já fizeram três posturas e até agora bem sucedidas, os alevins estão bem de saúde e com um ritmo de crescimento bastante bom. Eles protegem a sua prole como nunca vi acontecer com outros ciclídeos, quando atacam é mesmo para matar. Para se aperceberem desta agressividade que estes ciclídeos possuem, eu um belo dia decidi experimentar colocar um casal de N. ocellatus juntamente com eles num aquário de 200L, não passou uma semana sem que o casal de ocellatus aparecesse morto. Os cyprichromis que normalmente só ocupam a zona superior do aquário, mesmo estes são “caçados” com uma brutalidade incrível. Ainda relativamente à reprodução e comportamento na criação dos filhos, há relativamente pouco tempo e após ter observado o desenrolar das várias posturas, pude constatar um pormenor muito interessante relativo ao cuidado que estes peixes têm com as crias: quando a ninhada mais velha atinge um determinado tamanho que os pais considerem já perigoso para estarem com a ninhada mais nova, podendo uns ser predadores dos outros, nesse caso os pais consideram que a ninhada mais velha terá que arranjar novo lar e então começam a não deixar chegar por perto do ninho esses filhos maiores, tendo estes que se esconder dos pais e principalmente da mãe já que este comportamento é quase exclusivo da fêmea, o macho parece não se incomodar muito com as diferentes ninhadas.
Uma informação curiosa recolhida de alguns “pescadores” locais é que o tamanho máximo destes peixes capturados é de 4cm e quando colocados em aquários de quarentena rapidamente atingem os 7cm (isto para os machos), e segundo eles poderá ser devido aos de maior tamanho serem devorados pelos predadores devido ao facto de já não caberem nas conchas? Outra teoria, em redor deste facto, também defendida por vários investigadores, prende-se com um mecanismo natural de “defesa” que não os deixa crescer perante a ameaça permanente dos predadores, ou seja, se crescerem são comidos, então naturalmente eles não crescem e assim continuam a poder usar as conchas como abrigo.
À excepção de se manterem sozinhos, este ciclídeo deverá ser mantido num aquário relativamente grande (300L), Com companheiros de aquário peixes robustos tais como Altolamprologus, alguns Neolamprologus ou Variabilichromis, ao contrário os Julidochromis por exemplo não serão de todo uma boa opção, muito menos outras espécies de Telamatochromis ou outros conchículas (N. ocellatus, N. similis, N. meeli, etc…) já que mesmo com agressividades parecidas vão lutar pelos mesmo nichos e como tal uns ou outros saem prejudicados.
O biótopo preferido por eles será um amontoado de rochas médias bem firmes, de preferência pousadas no vidro do fundo, já que estes pequenos ciclídeos são uns escavadores natos e que gostam de escavar e decorar o seu território ao gosto deles.
Perto das rochas será necessário providenciar um “campo” de cochas de tamanho médio, Neothauma de preferência ou te tamanho equivalente, para que numa destas conchas a fêmea faça a suas posturas e o macho consiga também entrar na concha ajudando na “ventilação” dos ovos fazendo com que o sucesso da postura seja maior e a fêmea tenha mais tempo para passear pelo aquário.
Este ciclídeo é bastante prolífero, fazendo posturas regulares de 3 em 3 semanas aproximadamente e nascendo em cada uma delas entre 50 a 80 alevins.
Os alevins começam a sair da concha e a nadar em plena água aos 10 dias, mas para os vermos facilmente no aquário teremos que nos aproximar com muito cuidado sem que eles nos vejam, pois quando detectam algum movimento desaparecem todos para dentro da concha ou de uma fenda que exista nas rochas mais próximas.
O seu regime alimentar é quase exclusivamente vegetariano mas não recusa qualquer alimento mesmo que este seja de origem animal, logo devemos evitar todo o alimento com teor elevado de proteínas animais, como a artémia, coração de boi ou outros. As pastilhas de spirulina serão um bom alimento para os pais como para os alevins.
De todas as espécies de conchícolas que mantenho, esta deverá ser a mais interessante devido ao seu comportamento “agressivo” e principalmente ao seu carácter muito “vincado” não se deixando intimidar por nenhum peixe mesmo que este seja o dobro ou o triplo do seu tamanho.
Outra particularidade deste pequeno ciclídeo é a sua capacidade de se adaptar à cor do substrato existente, ou seja, se o substrato for claro ele fica com uma cor quase transparente, mas se o substrato for escuro ou se estiver sobre uma rocha escura a sua cor é castanha escura quase negro. A sua alteração do estado de “stress” também altera por vezes a sua cor alternando entre castanho-claro (quase bege) e o castanho-escuro quase preto.Aconselho todos os amantes dos ciclídeos do Tanganyiva que experimentarem manter esta bela espécie de conchícola, mesmo se a sua cor não é das mais interessantes e mais vistosas, irá com certeza animar o vosso aquário, tanto pelo seu comportamento muito marcado como pelo seu comportamento reprodutor como pelo seu instinto de arquitecto paisagístico de “castelos de areia”, tendo sempre em conta a sua agressividade para com os outros habitantes e com a alimentação, mas como referi no inicio, não será fácil de encontrar nas lojas portuguesas.

1 comentário:

  1. Sou de Belém do Pará, norte do Brasil, achei interessante o comportamento deste peixe, o conheci atraves de um amigo que me informou sobre ele. Não tenho noticias sobre ele aqui, mas procurarei me informar. Cássio

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