sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Manutenção de Mbunas

1. Lago Malawi (breve descrição do lago):

Os Portugueses atingiram as margens do lago o Malawi no início século XVII e David Livingstone (1813-1873), missionário e explorador escocês, redescobriu-o a 16 de Setembro de 1859. Explorando-o várias vezes conseguiu elaborar o primeiro mapa. Em 1861, era acompanhado de Kirk quando encontrou os primeiros Ciclídeos.
O lago Malawi antigamente chamado de Nyassa tem basicamente a mesma aparência geral do lago Tanganyka. O lago Malawi com uma superfície de 26.696 km2 e uma profundidade máxima de 706m, é o nono maior e quarto mais profundo do mundo. A parte mais funda do lago encontra-se na sua zona norte a uma cota 233m abaixo do nível das águas do mar. Como um verdadeiro mar interno, ele estende-se por cerca de 580 Km, enquanto a sua largura varia entre os 30 e os 80 Km. A superfície da água, situa-se a uma altitude de 473m. Como no lago Tanganyka, o lago Malawi também possui uma elevada concentração de sais e um pH alcalino que varia entre 7.7 e 8.8. A dureza carbonatada (KH) é de 6 a 8 dH e a dureza total (GH) é de 4 a 6 dH, a condutividade é de 210 a 335 µSiemens/cm à 20°C, é muito clara, com uma visibilidade até aproximadamente aos 20m.
O lago Malawi é “alimentado” por 14 rios e a única saída é o rio Shire, sendo este o rio mais importante do Malawi. Este rio percorre cerca de 402 Km desde a margem sul do lago Malawi até ao rio Zambezi. O lago Malawi não sofre grandes variações de temperatura ao longo do ano (23-25ºC) no entanto na região sul do lago, a temperatura à superfície do lago pode ter uma variação maior, devido principalmente a duas estações bem distintas: - a estação das chuvas e de temperaturas elevadas no período entre Janeiro e Abril em que as temperaturas à superfície da água poderão chegar aos 29ºC; - a estação seca e fria no período entre Junho e Agosto em que a temperatura da água poderá cair para os 20ºC.
O lago está permanentemente estratificado, ou seja, praticamente não existe mistura entre a água da camada superior e a camada inferior. O lago Malawi encontra-se em condições anóxicas (ausência de CO2) a partir dos 390m de profundidade, logo sem condições de habitabilidade para os peixes.

2. Introdução

Os ciclídeos originários do lago Malawi são conhecidos no mundo da ciência devido à sua proliferação e diversidade e no meio do aquariófilos pela sua beleza e comportamentos incríveis. O lago Malawi como os outros lagos do Este africano são únicos pela sua grande concentração de populações de ciclídeos que quase todos eles são endémicos destes mesmos lagos, ou seja, só podem ser encontrados nestes lagos e em mais lado nenhum. Devido à sua cor lindíssima e comportamentos muito interessantes são os ciclídeos provenientes destes lagos muito procurados e apreciados pelos aficionados pela aquariofilia.
O lago Malawi abriga uma das comunidades piscícolas mais importantes e mais variadas. Actualmente são conhecidas cerca de 700 espécies endémicas e, mesmo entre estas, muitas espécies são encontradas somente em zonas muito pequenas do lago.
Estes ciclídeos, a sua evolução, a sua etiologia, são fonte de numerosos estudos. Não há dúvida nenhuma que ainda teremos muito para aprender e descobrir sobres estes ciclídeos e esperemos que o seu meio natural seja preservado para que se mantenham estas espécies sãs e salvas das agressões do Homem ao meio ambiente.
Os ciclídeos do lago Malawi dividem-se em dois grandes grupos principais:
- Os Não-M’bunas que agrupam géneros como os Aulonocara, os Lethrinops e os chamados “Haplos”.
- Os M’bunas que são peixes de tamanho moderado essencialmente petrículas, muito coloridos e com comportamentos muito interessantes. Estes são muito populares no meio dos aquariófilos. São estes últimos que iremos aprofundar neste artigo com o objectivo de dar a conhecer os aspectos mais importantes no que se refere ao seu comportamento e manutenção em aquário deste grupo tão variado que são os M’bunas.
Quase todas as espécies de ciclídeos do lago Malawi são incubadoras bucais, excepto uma. No que respeita aos M’bunas todos eles praticam incubação bucal maternal, incubando e protegendo os seus ovos na garganta durante a incubação e mesmo já depois dos alevins nascerem.
3. Quem são eles?

O nome M’buna, significa em linguagem local “raspador de pedra” onde se agrupam os géneros seguintes e endémicos do lago Malawi: Cyathochromis, Cynotilapia, Gephyrochromis, Genyochromis, Iodotropheus, Labidochromis, Labeotropheus, Melanochromis, Petrotilapia e Pseudotropheus, Maylandia e Tropheops.
Actualmente há mais de 200 espécies de M’bunas descritas, no entanto o número total de espécies é difícil de estimar, R. Allgayer descreveu 196 em 1987 e Ad Konings refere 212 espécies, descritas ou não, no seu Atlas de 1990. Mas estes números de espécies não são mais que espécies originárias da costa “Malawiana” ou seja toda a costa Oeste, Sul e uma pequena parte da costa Sudeste.
A partir do final dos anos 90 novas espécies apareceram no mercado europeu graça à exploração de outros locais do lago, tais como a costa Nordeste (Tanzânia) e a casta de Moçambique (centro-este) mal explorada ainda.
Duma maneira geral, os M’bunas são espécies petriculas alimentando-se de algas que cobrem as rochas assim como pequenos animais que nelas se escondem.
Convém no entanto assinalar que este comportamento não constitui uma regra, já que certas espécies são, mais ou menos, arenícolas e outras alimentam-se de planton.
Muitas espécies aproveitam este recurso alimentar em épocas de abundância, mesmo não sendo este o seu regime alimentar de base.

4. Um aquário de M’bunas

Mesmo sendo os M’bunas espécies de tamanho moderado, devido a seu comportamento agressivo um aquário para eles deve ser o maior possível, dando principalmente importância ao seu comprimento e largura e menos à sua altura, ou seja quanto mais longo e largo melhor. O mínimo volume que poderá albergar alguns trios (3 a 4) serão 200L (100*40*50) de espécies particularmente calmas e pequenas. Eu diria que um tamanho razoável para manutenção destes peixes será um aquário de 500L, permitindo assim introduzir um maior número de indivíduos, tanto em quantidade como em variedade. Convém também referir que super-povoar o aquário poderá ser um factor de diminuição da agressividade entre eles.
Como valor indicativo habitualmente é aconselhado ter 3 a 4 litros de água para cada cm de peixe adulto, no entanto na minha opinião poderemos “apertar” um pouco esses valores, mas nunca muito longe destes valores. É claro que podemos meter 30 M’bunas num aquário de 200L, mas temos um caso muito sério nas mãos.
Deve evitar-se o uso de troncos já que estes podem baixar o pH.
Com o objectivo de se imitar o seu meio natural, a decoração para os aquários deve incluir muitas rochas que formarão esconderijos para os peixes definirem os seus territórios e também poderem esconder-se e assim se protegerem de agressões por parte dos outros habitantes, no entanto é necessário prever uma área aberta para natação. Deve-se dispor de um aquário bastante largo de maneira a termos uma maior noção de profundidade como também termos uma maior estabilidade da decoração. Quando possível devemos considerar algumas zonas sem rochas e entre estas por forma a criarmos mais facilmente os territórios para os M’bunas. Do ponto de vista estético, devemos ter uma certa homogeneidade nas rochas de decoração, tanto na sua forma como na sua coloração, é claro que tudo depende dos nossos gostos e preferências. O substrato deve ser de um material que ajude as potencialidades do poder tampão do pH da água (buffering). Pode-se por exemplo usar para esse efeito dolomite ou corais esmagados misturados com areia fina. O uso de troncos, ainda que pouco utilizado neste tipo de biótopos, existe em habitats de certas destas espécies como por exemplo os Pseudotropheus sp. “acei”.
No entanto quando usarmos estes troncos devemos sempre ter em consideração que eles podem fazer com que o ph possa baixar devido a terem componentes ácidos, sendo assim devemos providenciar troncos que estejam há muito tempo dentro de água ou mesmo noutros aquário, evitando assim que a presença de substâncias ácidas seja praticamente nula.
Há quem defenda o uso de decorações “fixas” com poleuretano expandido ou poliestireno, muito estéticas quando bem realizados, prevenindo desmoronamentos da decoração, no entanto este tipo de decorações têm várias desvantagens associadas: em primeiro lugar, e como veremos mais à frente, na introdução de novos habitantes e por outro, na captura de peixes em incubação, doentes ou mesmo alevins que tenham nascido no aquário. Por isso eu aconselho decorar um aquário de M’bunas ou outros ciclídeos com características idênticas a estes, com decorações “soltas” e fáceis de remover quando necessitamos de realizar qualquer das operações acima descritas.
No caso de aquários em que o aspecto estético não seja um factor importante, caso por exemplo de aquários de crescimento ou quarentena, poderemos decorar o aquário com uns vasos de flores, tijolos ou qualquer outro acessório de modo a criarmos o maior número de esconderijos para os habitantes.
O uso de plantas quase sempre se torna numa tentativa falhada devido à natureza vegetariana destes ciclídeos africanos. A iluminação não é crítica podendo ser usado qualquer espectro de cor conforme o gosto, no entanto na minha opinião deve-se usar uma iluminação, tanto em quantidade como em qualidade que promova o crescimento de algas.
A composição físico-química da água do lago Malawi difere extremamente de todos biótopos restantes e assemelha-se mais à água do mar do que propriamente à água doce tropical. É uma água doce e alcalina, com alguns valores referidos anteriormente neste documento, valores estes que nem sempre são fáceis de conseguir no aquário. Mas felizmente os peixes têm alguma tolerância a essas condições e adaptam-se a pequenas variações do seu meio. Uma água da torneira dura a semi-dura será conveniente, uma água pouco dura ou macia deverá ser alcalinizada de modo a conseguirmos estabilizar o pH. Para esse efeito existem sais no mercado elaborados especificamente para tal como outros produtos químicos que falaremos mais adiante.
Com uma frase do Ad Konings proferida numa entrevista para a revista da Associação Belga de Ciclídeos, em que ele diz preferir os ciclídeos do Malawi pelas suas cores lindíssimas mas que não os mantém em casa, porque eles só exibem essas cores no lago, ficamos um pouco pensativos e até com alguns problemas de consciência. Esta opinião é partilhada por muitos dos exploradores e cientistas que estudam estes peixes no seu próprio meio, ou seja, todos partilham da mesma ideia: os M’bunas só exibem a suas verdadeiras cores no sei meio natural. E à parte das condições da água eles também consideram que a falta de volume/espaço no aquário também pode ser um factor determinante.
Uma receita muito defendida no meio aquariófilo para aumentar a alcalinidade da água é adicionando Bicarbonato de Sódio de maneira a conseguirmos obter um KH entre 7 e 7,5 o que implica um pH de 8,2. Na revista nº34 de 12/83 da AFC é referida uma receita que se aproxima mais das características físico-químicas do lago (146mg/l de bicarbonato – ¼ de bicarbonato de Potássio + ¾ de bicarbonato de Sódio). Tanto num caso como noutro aconselham a usarmos água desmineralizada. Nos meus aquários uso o bicarbonato de Sódio no momento das mudas de água (água directa da rede pública) conseguindo ter um pH constante e sempre entre 8,2 e 8,4. Se conseguirmos que a água tenha valores de dureza e pH o mais próximos das valores do meio ambiente dos peixes, de certeza que eles ficarão mais coloridos e mais parecidos com os que se vêm no lago.
Também não podemos esquecer que a iluminação tem muita influência na coloração dos peixes, nada conseguirá substituir a iluminação fornecida pelo sol, mas no entanto poderemos simular essa iluminação artificialmente, tanto em quantidade como em qualidade. Algumas marcas existentes no mercado fornecem lâmpadas com um espectro luminoso muito bom para manutenção de peixes de aquário (Biolux, Aquaglo, Aquastar, etc…). Nos meus aquários, uso as Osram 11 860 com 6000ºK combinadas em alguns casos com trifosforos de 10000ºK. As Osram 11 são muito boas, com um espectro muito completo e com uma grande vantagem às existentes nas lojas de aquariofilia: são muito mais baratas. Podemos também adicionar um tubo azul na proporção de 1 W de azul para 3 a 4 W de branca, e assim realçar os tons azuis dos peixes. Não se pode abusar no azul já que corremos o risco de atenuar os amarelos dos peixes. Outro tipo de iluminação que se pode usar nos nossos aquários de M’bunas são as lâmpadas HQI, principalmente no caso dos aquariófilos que possam despender de mais algum dinheiro para a iluminação dos seus aquários. Estas últimas fornecem um fluxo luminoso que realça muito bem as cores dos peixes e combinada com uma boa circulação da água à superfície simulam muito bem as condições naturais. Estas lâmpadas devido ao seu preço e ao consumo energético associado, não se tornam uma boa solução para aquários pequenos ou médios ou para aquariófilos menos afortunados.
Uma constante em todos os aquários de ciclídeos africanos é o teor de oxigénio na água. Ele deverá ser o maior possível, e para isso deveremos usar um bom aquário de decantação (“sump”) ou um filtro semi-húmido alimentados por uma bomba com um caudal de 3 a 5 vezes o volume do aquário por hora. Em aquários pequenos (200 a 300 litros) podemos usar um filtro exterior com capacidade de 7 a 10 vezes o volume por hora, e assim conseguimos manter a água em óptimas condições. Podemos complementar a aeração do aquário com uma bomba de ar ou mesmo colocando um sistema adaptado ao filtro para fazer esse efeito. Não esquecer que a taxa de oxigénio dissolvido na água está pendente da temperatura da água, ou seja, varia inversamente proporcional com esta. Logo termos a água a 25ºC é sempre melhor que ter a água a 28ºC, por outro lado não devemos ter a temperatura abaixo dos 25ºC já que os peixes ficam mais sensíveis e como consequência mais susceptíveis de contrair doenças.
Outra substância que é importante controlar e manter o mais baixa possível, são os nitratos, o que não é muito fácil de obter usando a água da rede pública que geralmente tem uma taxa bastante elevada. Felizmente, os M’bunas suportam bem uma taxa de 100mg/l. Podemos controlar essa taxa de nitratos com as mudas regulares de água (30% todos os 15 dias).

5. Alimentação e Doenças

É difícil separar estes dois pontos. Com efeito, um peixe bem nutrido raramente adoece. Se além disso lhe dermos umas boas condições de habitabilidade e manutenção, pode-se dizer que os M’bunas são “inquebráveis”.

Alimentação:

No que respeita à alimentação deve-se ter em atença dois aspectos: qualidade e variedade.
Para a qualidade teremos que assumir como referência os estudos feitos aos ingredientes encontrados no estômago dos peixes capturados no seu meio natural; em que os resultados dos estudos nos dizem que estes peixes se alimentam basicamente de algas e de pequenos seres que nelas se escondem. A este conhecimento devemos juntar alguma experiência dos aquariófilos que têm conseguido algumas receitas caseiras para substituir o alimento natural.
Todos os alimentos à base de carne, coração de boi, etc… devem ser evitados podendo provocar doenças intestinais dos M’bunas e em doses muito elevadas podem mesmo provocar uma degeneração das células do fígado. No livro “O grande livro dos ciclídeos” ainda vão mais longe, desaconselhando qualquer alimento constituído por substâncias provenientes de mamíferos (leite, carne…) porque as gorduras provenientes de animais de sangue quente são muito difíceis de assimilar pelos peixes a uma temperatura de 25ºC.
Para o alimento de base podemos utilizar uma receita muito usada e testada vezes sem conta, variando apenas nas quantidades:
- 100g de ervilhas congeladas;
- 100g de miolo de camarão congelado;
- 1 colher de sobremesa de Spirulina em pó;
- 10g de gelatina;
- Algumas gotas de vitaminas concentradas.
Podemos ainda complementar essa alimentação de base com pastilhas de spirulina, flocos ou granulados à base de vegetais existentes à venda nas lojas da especialidade. Podemos por vezes também administrar artémia congelada, é um bom complemento aos alimentos atrás referidos.
Outro conselho importante referente à alimentação é no que respeita à quantidade. Os m’bunas são peixes “glutões” que comem tudo que se lhe der, e os resultados são impressionantes, vêm-se por vezes Metriaclima lombardoi com 20 cm e Labidochromis caeruleus com 15 e 16 cm, os quais não ultrapassam os 8 a 12 cm (8 para os mais pequenos e 12 para os maiores) no seu meio natural. Por consequência estes peixes são excessivamente adiposos e com a região pélvica cheia de gordura. Estes peixes são do estilo americano alimentado a oca cola e hambúrguer. Por isso, devemos alimentar os nossos peixes regradamente e em quantidades pequenas de modo a evitar a obesidade. Por vezes convém mesmo deixá-los uns dias de dieta alimentar, já que eles não vão morrer de fome. Nas férias no entanto convém prever uma alimentação mínima, já que estes peixes devido à sua actividade gastam muito rapidamente as suas reservas caloríficas.

As doenças:

Os m’bunas são mais resistentes comparados com os peixes em geral, no entanto também não são tanto como se possa pensar: a esperança de vida em aquário é sensivelmente de 10 anos, mas poucos indivíduos chegam a essa idade. Comparados com certos peixes “indestrutíveis”, tais como os “Plecos”, os grandes Caracídeos, “Labeos”, etc. Eles são mais sensíveis que estes últimos a um certo número de doenças.
Em primeiro lugar podemos falar das doenças cutâneas: os hectoparasitas tais como o Oodinium podem provocar um desastre num aquário doente, super-povoado, mal filtrado e mal areado. A super-população pode facilmente acontecer provocada por uma ou duas ninhadas de alevins soltos pelas suas mães dentro do aquário e não capturados, fazendo aumentar a população num pequeno período de tempo. Como os M’bunas são peixes bastante agressivos, essas agressões são quase constantes num aquário muito povoado. Os machos dominados e as fêmeas são os mais expostos a estas agressões e consequentes danos no corpo do peixe, mas por vezes o macho dominante ou a fêmea alfa podem sofrer agressões no momento de qualquer outro indivíduo querer subir na hierarquia. As feridas provocadas por estas agressões são um ponto susceptível de infecções. Outro dos factores que podem provocar agressões cutâneas e consequentes infecções são as pedras da decoração se tiverem asperidades, é o caso das rochas vulcânicas.
Os M’bunas como todos os outros petrícolas do Tanganyika, são susceptíveis às diferentes formas de hidropsia da qual é difícil de determinar o agente patogénico. Esta infecção é geralmente manifestada através de um “inchasso” do ventre e de carácter muito contagiosa, pode-se propagar por todos os peixes do aquário em pouco tempo.
Para evitar qualquer destas formas de hidropsia e posterior contaminação dos outros indivíduos, será termos sempre cuidado com a alimentação e quando detectarmos que um peixe deixa de comer retiramo-lo imediatamente do aquário comunitário.
Um dos tipos de hidropsia e muito conhecida no seio dos ciclidófilos é a “Malawi bloat”, ou o “inchasso do Malawi” que normalmente é associado à má alimentação e a condições da água menos boas. Esta doença não é só característica destes peixes, mas também muito frequente no Tropheus do Tanganyika.

6. Reprodução dos M’bunas:

Existe uma opinião comum no seio da aquariofilia: a reprodução dos M’bunas é muito fácil. Eles fazem parte das espécies que dão as primeiras vitórias de criadores aos iniciados em aquariofilia. Não nos podemos esquecer do entusiasmo e a alegria que tivemos quando tivemos as nossas primeiras crias, minúsculas a vaguearem pelo aquário.
Todos eles são incubadores bucais e todos se reproduzem da mesma forma, ou seja, todos acasalam da forma “posição em T” e todo o ritual que este tipo de acasalamento requer. A “posição em T” é alternada entre o macho e a fêmea.
A poligamia é uma regra absoluta nestas espécies, nunca há formação de casais e há sempre mais tolerância entre indivíduos de sexo oposto quando têm territórios próximos. O ritual antes do acasalamento só diz respeito ao macho, enquanto a incubação dos ovos e posterior protecção da prole cabe esta tarefa unicamente à fêmea.
Geralmente é possível apreciar certas diferenças no que respeita aos locais preferidos para o ritual de acasalamento. Algumas espécies preferem a postura nas cavidades entre as rochas, outras preferem fazê-lo sobre uma rocha plana, outras ainda poderão fazê-lo em rochas junto do substrato, fazem antes uma cova para a postura.
Os M’bunas são uns excelentes pais e que evoluíram no sentido de conseguirem com alguma astúcia proteger os seus filhos e terem sucesso na proliferação das suas espécies num ambiente tão austero e com vários predadores destes pequenos peixes.
No lago Malawi não vemos comportamentos tão variados de reprodução como no lago Tanganyika, onde desenvolveram comportamentos muito diferentes uns dos outros de modo a conseguirem a proliferação das espécies num habitat repleto de predadores.
Após o acasalamento, e após a fêmea ter já os ovos todos na cavidade bocal, procura uma cavidade entre a decoração e lá fica escondida e protegida dos ataques do macho. Esta fase de incubação dura geralmente 3 semanas, por vezes menos desde que a fêmea não sinta predadores por perto.
É sempre possível “pescar” a fêmea antes desta largar os alevins (2 semanas) e forçá-la a largas os seus filhos. A captura quase sempre se torna num processo bastante difícil e demorado. Nestes casos o método mais simples será retirar a decoração para facilitar o processo de captura e assim diminuirmos o stress que a fêmea vai sofrer.
O espaço entre ninhadas da mesma fêmea anda em redor dos 2 meses, sem contar com o período de incubação.
Os alevins expulsos no aquário comunitário na sua generalidade serão considerados alimento pelos outros adultos, no entanto alguns deles escapam à depredação e depois de atingirem os 2 cm já serão bem suportados pelos adultos que praticamente os ignoram.
A manutenção dos pequenos peixes num aquário específico de crescimento, não representa qualquer tipo de dificuldade devido ao tamanho destes ser de aproximadamente 1 cm conseguindo comer comida em pó e artémia recém-eclodida.
Os jovens conseguirão atingir a sua maturidade sexual aos 7 meses aproximadamente. É preferível não deixar incubar as fêmeas muito cedo já que isso pode comprometer o seu crescimento, podendo atrofiá-las.
Note-se que para haver sucesso na reprodução devemos ter um macho de tamanho superior ao das fêmeas, caso contrário será difícil conseguir, pelo simples facto de a fêmea não aceitar um macho que não a consiga dominar. Por vezes acontece que temos uma fêmea mais velha num aquário entre outros da mesma espécies mais novos, ela neste caso dominará o aquário e terá comportamentos próximos dum macho dominante, impedindo os jovens machos de tentarem qualquer tipo de acasalamento.

7. Escolha das espécies para o nosso aquário:


Como já referido anteriormente, a variedade de espécies é grande, e cada vez maior.
Em primeiro lugar, mesmo que não seja muito diplomático, é preciso encorajar os aficionados a escolher o seu lojista. Temos que admitir que os lojistas que sabem o que vendem, são muito raros. Encontram-se muitas lojas a vender M’bunas originários de criações Sudoeste asiático que nada têm a ver com as espécies encontradas no seu meio natural e nada têm a ver com a verdadeira fonte selvagem, e por isso os híbridos são cada vez mais encontrados no mercado da aquariofilia.
A escolha do lojista implica por vezes visitarmos vários e percorrer alguns Quilómetros até encontramos aquele que nos sabe informar e com espécies bem catalogadas e com proveniências de confiança. Por vezes não encontramos aquilo que queremos, mas não é por isso que vamos comprar tudo aquilo que se mexe nos aquários.
Antes de mais devemos excluir das nossas aquisições a espécie Genyochromis mento (um comedor de escamas e barbatanas), pelas razões evidentes, e praticamente todas as espécies de Petrotilapia desde excepto se tivermos um aquário parecido com uma pequena piscina.
Seguidamente, nunca devemos adquirir peixes com um aspecto idêntico (na cor), como por exemplo o Melanochromis johannii, Pseudotropheus saulosi e os Metriaclima msobo magunga, porque as fêmeas são praticamente iguais, sendo pouco conveniente correr tais riscos de hibridação. Estes riscos são aumentados quando temos espécies pertencentes ao mesmo género ou do mesmo grupo, caso dos Pseudotropheus zebra (entre eles), os M. greshakei, os M. callainos, os M. estherae, etc. No entanto espécies distintas mesmo pertencentes ao mesmo grupo ou género poderão coabitar facilmente sem grandes problemas de hibridações. Assim poderemos por exemplo misturar P. elongatus com Metriaclima zebra com Tropheops. É de salientar que em todo caso não é conveniente manter variedades geográficas da mesma espécie.
Como regra geral, e para evitar hibridações, é preciso evitar manter um sujeito sozinho. Se for uma fêmea em incubação mais de 24 horas, é fácil de detectar uma hibridação, se pelo contrário, for um macho dominante nunca saberemos se eventualmente acasalou com uma fêmea de outra espécie na qual o macho se deixou dominar.
De salientar também que no momento de adquirirmos os peixes, e principalmente se estivermos a pensar em criações, devemos procurar fontes de confiança e tentar comprar uns 4 ou 5 peixes jovens de 2 fontes diferentes, prevenindo assim a consanguinidade. No entanto o crescimento dos peixes deve ser feito em aquários separados, porque senão depois não sabemos quais são os de uma ou outra origem.


8. Compatibilidade e Agressividade:

Se em parte podemos dizer que existe uma grande homogeneidade entre as várias espécies de M’bunas, tanto na cor, como no tamanho e constituição física, já podemos dizer que esta existe no que se refere ao seu comportamento. O seu comportamento espectacular e goza de uma diversidade que raramente se vê em outro tipo de géneros de peixes. Tanto devido ao seu hábito de constituírem territórios como pelo facto de serem poligâmicos e lutarem por um lugar hierárquico superior e assim terem o “direito” de acasalar com as fêmeas do aquário.
Consequentemente, podemos sim dizer que o comportamento (grau de territorialidade e agressividade) está longe de ser uniforme. Certas espécies podem ser consideradas calmas e pouco agressivas enquanto que outras podem são muito agressivas e com um comportamento menos bom para se manterem com as primeiras. Nestes últimos temos por vezes um grau de territorialidade muito acentuado também nas fêmeas.
Existem outros casos que a territorialidade é unicamente intra-específica, os indivíduos de outras espécies distintas são simplesmente ignorados. Por exemplo, no caso dos Melanochromis, não são territoriais, no entanto isso não os impede de serem muito agressivos e que quase sempre assumem a topo da hierarquia no aquário. Nem só a sua agressividade faz deles os mais fortes mas também o seu tamanho e a sua técnica de combate, em movimentos circulares muito apertados que qualquer outro grupo de M’bunas de tamanho equivalente consegue realizar.
Assim, ao contrário do que muito aquariófilos pensam, estes peixes são insuportáveis e impossíveis de manter num aquário pequeno, não é devido à sua territorialidade mas sim à sua agressividade inter e intra-específica.
Posto isto, poderemos dizer que a hierarquia e a harmonia do nosso aquário depende das espécies que escolhemos, tendo sempre em consideração o seu tamanho, territorialidade, agressividade, técnicas de combate, etc.
Relativamente a estes dois aspectos, posso afirmar que nos meus dois aquários de M’bunas que mantenho com muito orgulho e empenho, ambos possuem uma harmonia ideal ou perto disso. Ambos conseguem manter-se com uma agressividade moderada e isentos de casos de hibridações. Um deles está hierarquicamente dominado por um Labeotropheus fuelleborni (muito maior que os restantes) praticamente isento de agressividade inter específica mas que dado o seu tamanho consegue manter o respeito perante os restantes e manter um equilíbrio no aquário. No outro, é um caso totalmente distinto do primeiro, neste aquário mantenho espécies distintas entre si e todas elas aproximadamente do mesmo tamanho e agressividade idênticas. Tanto um como outro consegue-se observar o comportamento dominante de todos os machos das diferentes espécies, e como consequência ter o privilégio de periodicamente ninhadas de alevins serem vistas vaguearem pelo aquário, sem nunca haver casos críticos de agressividade entre eles.
Como conclusão, existem vários factores a serem considerados no momento de povoarmos o nosso aquário seja ele de que tamanho for, que passo a referir aqueles que me parecem mais importantes e alguns já abordados anteriormente e outros o serão mais adiante:
- Tamanho;
- Agressividade;
- Técnicas de combate e o vigor com que defendem o seu território;
- Comportamentos inter e intra específico;
- Padrão de cor.

9. Comportamento:


Recordemos em primeiro lugar dois conceitos importantes para falar deste assunto:
- Comportamentos inter específicos (entre indivíduos de espécies diferentes);
- Comportamentos intra-específicos (entre indivíduos da mesma espécie).
Em geral o comportamento inter específico é bom desde que mantidos em boas condições tanto de compatibilidade como de manutenção, como algumas que já foram aqui referidas. Também é evidente que colocar um Melanochromis auratus num aquários com alguns neons, o seu comportamento inter específico não será dos melhores. Este exemplo extremo é para demonstrar apenas algumas das asneiras que eram cometidas nos anos 70 e que ainda se cometem por aquariófilos menos informados e que querem iniciar o hobby sem tentarem primeiro estudar as espécies que vão adquirir. O mesmo Melanochromis auratus colocado num aquário de 500l com outros M’bunas terá um comportamento razoável perante os outros habitantes (não podemos dizer no entanto que esta espécie seja particularmente calma e sociável).
Por outro lado, o comportamento intra-específico dos M’bunas é “mau”, principalmente entre os machos, já para as fêmeas é razoável na maioria das situações. Com efeito, é muito difícil ou quase impossível manter dois machos juntos num aquário relativamente pequeno, já num aquário de dimensões razoáveis poderá ser possível eles conviverem sem grandes “guerras” entre si. As fêmeas convivem bem juntas no aquário sem se importunarem muito umas às outras, excepto em alguns casos no período de incubação, em que estão na sua “toca” e poderão expulsar qualquer indivíduo que se aproxime delas, mas nada que se compare com a agressividade dos machos.

10. Compatibilidade com outras espécies:

Mesmo se o hábito duma grande parte dos aquariófilos é de manter os M’bunas com outros M’bunas, isto não é uma regra, eles conseguem ser bons companheiros de outras espécies.
É o caso por exemplo de outros ciclídeos do Malawi, como os do género “Aulonocara”, principalmente a espécie Aulonocara jacobfreibergi, que sendo peixes com uma agressividade idêntica, se conseguem manter juntos sem grandes problemas. Os grandes “Haplos”, como por exemplo os Placidochromis electra e os Othopharynx lithobates, que são peixes bastante robustos também coabitam com eles sem grandes problemas, excepto quando mantidos com M’bunas mais agressivos do tipo Melanochromis auratus que os podem inibir de se reproduzirem ou no caso de o conseguirem terão alguma dificuldade em guardar os ovos no momento do acasalamento.
Outros ciclídeos africanos poderão coabitar com eles, desde os “Tropheus” originários do lago Tanganyika (neste caso convém que estes sejam introduzidos depois), os “Haplochromis” do lago Vitória, como também outros ciclídeos fluviais africanos com tamanho e agressividade idênticas.
Outras espécies podem ser introduzidas e que não pertencem à família “cichlidae”, é o caso dos grandes “Caracídeos” e dos grandes “Cyprinídeos”.
Peixes de fundo como os Synodontis multipunctatus, os Synodontis nyassae, os Synodontis petricola, entre outros também são companheiros excelentes.
Outra espécie que se dá muito bem num aquário de M’bunas, e que eu mantenho já há alguns anos, é o Gyrinocheilos aymonieri, é uma espécie bastante vivacidade e que não se deixa intimidar pelos “briguentos” M’bunas como também tem a vantagem de ser um excelente limpador das paredes do aquário.
Outras espécies poderiam ser aqui referidas, o importante o momento de escolhermos os companheiros para os nossos M’bunas, será termos em conta todos os parâmetros de agressividade, alimentação, características da água e outros… que devemos considerar em todos os tipos de biótopos sejam eles quais forem.
11. Algumas espécies existentes de M’bunas:

Neste tópico vou descrever algumas espécies que mantenho em casa e que são bastante comuns no comércio de aquariofilia em Portugal. Seria muito difícil falar delas todas já que estamos a falar de mais de 200 espécies. Destas que vou falar, irei tentar fazer uma pequena descrição tendo em conta alguns aspectos importantes do seu comportamento e todas as outras características que possam ser relevantes à sua manutenção.

Labeotropheus fuelleborni


Esta espécie faz parte dum grupo de M’bunas considerados de “grande porte” onde normalmente são incluídos os seguintes grupos: Petrotilapia, Pseudotropheus crabro, Grandes Melanochromis (chipokae, parallelus, vermivorus), Pseudotropheus elegans, "Melanochromis" labrosus, Maylandia zebra, Maylandia lombardoi, Maylandia hajomaylandi,etc.
Habitat natural: espécie endémica do lago Malawi, encontrado em quase todas as zonas superficiais e rochosas do lago, é encontrado somente até aos sete metros de profundidade.
Tamanho e forma do corpo: o seu tamanho varia desde a população maior que é encontrada em Chirwa Island na parte Sul de Chilumba na qual os machos podem atingir os 18 cm, até à população originária de Selewa na costa Noroeste, na qual os machos atingem somente os 10 cm. As fêmeas são cerca de 25% mais pequenas.
O corpo é alongado e moderadamente comprimido sobre os flancos, ligeiramente mais alto que o do seu aparentado Labeotropheus trewavasae. A boca é muito aberta a toda a largura da cabeça. O lábio superior é hiper-desenvolvido e o nariz é carnudo a cai sobre a boca. Este formato da boca permite que ele consiga “ripar” as algas das rochas sem precisas de se colocar na posição vertical como acontece com os restantes M’bunas.
Coloração e diferenças sexuais: as fêmeas de todas as populações são praticamente da mesma cor, ou seja, são todas castanhas acinzentadas com uma dezena de riscas transversais ao longo do corpo.
Fora deste padrão de cor, existem as variedades “OB” (Orange blotch) e/ou as “O” (Orange). Em certas populações a percentagem de OBs e Os atingem os 50%.
A cor dos machos varia em função das populações, mas a sua cor de base é o azul mais ou menos intenso e com reflexos amarelos. Podem também ser encontrados na sua variante OB. Em função das variedades geográficas uma cor particular pode ser encontrada sobre os flancos e barbatanas.
Obviamente, é muito simples de distinguir os machos das fêmeas no seu tamanho adulto, no entanto poderá ser mais difícil nas variantes “O” e “OB”, mas mesmo nestas os machos têm normalmente reflexos azuis.
Comportamento e alimentação em aquário: como quase todos os M’bunas são muito agressivos perante os da mesma espécie mas bastante tolerantes para as outras. Dado o seu tamanho normalmente dominam o aquário se este for relativamente pequeno.
Quanto à sua alimentação, devemos administrar muita quantidade de matéria vegetal, dado que esta espécie e principalmente herbívora alimentando-se no seu meio natural de algas de pequenos invertebrados que nelas se encontram. (Aufwuchs).
Reproduz-se praticando o ritual do acasalamento em T, como já referido e como todos os outros M’bunas.
Aquário: devemos providenciar um aquário bastante grande, sempre que possível acima dos 300l, com uma decoração rochosa. As condições da água devem ser o mais próximas das do seu meio ambiente (pH >7,5; GH 4 a 5; temp.: 24 a 28 ºC).

Cynotilapia afra

Ao contrário dos anteriores, estes pertencem ao grupo dos M’bunas mais pequenos, onde são normalmente incluídas outras espécies, como: parte dos Labidochromis; dos Pseudotropheus lanisticula, etc.
Habitat natural: são originários da costa Norte do lago (Tanzânia e Moçambique).
Tamanho e forma do corpo: geralmente o seu tamanho varia entre os 7 e 8 cm podendo em cativeiro crescer um pouco mais (10 cm). O seu corpo é alongado e ligeiramente achatado nos flancos, muito parecidos com os Maylandia zebra, conseguindo distinguir-se facilmente destes pela sua dentição particular e caniniforme, donde vem o seu nome Cynotilapia.
Coloração e diferenças sexuais: as fêmeas são acastanhadas, umas mais escuras que outras em função do local onde são capturadas. A cor dos machos é à base de azul com riscas escuras ao longo do corpo. Dependendo das populações podem ser encontrados machos com a barbatana dorsal branca, amarela ou alaranjada, como também podem ter a presença da cor amarela na zona superior do corpo, que é o caso dos Cynotilapia afra “Cobwe”. A fêmea desta variedade tem uma cor mais clara que a maior parte das outras variedades geográficas.
Os alevins nascem com uma cor acinzentada e rapidamente ficam parecidos com os pais.
Comportamento e alimentação em aquário: têm um comportamento intra-específico menos mau do que outras espécies, e toleram bem os de outras espécies, desde que distintos em termos de coloração.
No seu habitat natural, esta espécie alimenta-se basicamente de plâncton mas também das algas presas às rochas, principalmente os machos dominantes e territoriais. Em aquário, eles aceitarão quase tudo, mas convém dar-lhes sempre comida de origem vegetal em quantidades razoáveis.
Reproduz-se praticando o ritual do acasalamento em T, como já referido e como todos os outros M’bunas.
Evitar mantê-los com outros com um padrão idêntico de cor (azul com riscas escuras transversais).
Aquário: dado o seu tamanho poderemos manter esta espécie num aquário com um volume a partir dos 150l, decorado com bastantes rochas e mantendo de preferência um macho e várias fêmeas. As condições da água são iguais a todos os outros, sempre o mais próximas das condições que eles têm no seu meio natural.
Conclusão: esta espécie em qualquer das suas variedades geográficas, é uma espécie muito interessante em termos de comportamento, muito colorida e adequada à maior parte dos nossos aquários, já que neste momento o aquário “standard” em Portugal será o de 200l, sendo este já um volume para podermos colocar esta espécie com mais 2 ou 3 espécies em boas condições de habitabilidade.

Metriaclima estherae

Esta espécie pertence ao grupo dos Pseudotropheus zebra, que são os M’bunas mas clássicos do mercado, de tamanho e agressividades médias. Actualmente o termo “Pseudotropheus” já não tem qualquer sentido ser usado devido à sua evolução para o termo “Metriaclima”.
Habitat natural: estes peixes são encontrados ao longo de toda a costa Este do lago (Metangula, Meluluca, Minos reef, etc.).
Tamanho e forma do corpo: o corpo é alongado e robusto como todos os outros “zebras”. Esta espécie tem um tamanho que varia entre os 10 e 12 cm, um pouco menos para as fêmeas.
Coloração e diferenças sexuais: a cor original desta espécie no seu habitat natural é o azul e para as fêmeas um azul mais terno a cinzento. No entanto esta variedade é quase impossível de encontrarmos no mercado.
A variedade de “Minos reef” é absolutamente a mais popular e mais comum no comércio da aquariofilia, devido à cor azul celeste muito bonita dos machos e principalmente à cor laranja viva das fêmeas nas variantes “O” e “OB”, sendo as “O” mais encontradas e raramente vemos a variante “OB”. Por outro lado os machos nas variantes “O” e “OB” não são facilmente encontrados.
Os alevins da população “Minos reef” nascem cor-de-laranja vivo, são parecidos com as mães, parecendo uns adultos em miniatura.
Comportamento e alimentação em aquário: o seu comportamento é idêntico à maior parte dos M’bunas, o que quer dizer que se tornam agressivos entre os da mesma espécie e outros com padrões de cor parecidos, tolerando bem os de outras espécies.
A sua reprodução é igual a todos os outros M’bunas: acasalamento em T; posteriormente a fêmea irá incubar os seus ovos durante um período que varia entre as 3 e 4 semanas. Durante a incubação a fêmea quase que não come, apenas apanhando pequenas partículas de comida que passam perto delas, mantendo-se praticamente todo o tempo escondidas nas rochas.
No seu meio natural eles alimentam-se à base de algas e microrganismos que têm estas como seu refúgio (Aufwuchs) mas também já se têm observado a nadar em águas abertas alimentando-se de plâncton.
No aquário, como acontece com os outros M’bunas, pode-se dar qualquer alimento (granulado ou flocos) à venda em qualquer loja, desde que com baixo teor em proteínas animais. A “receita” acima mencionada estará muito bem para eles.
Aquário: o aquário deverá ter no mínimo 200l e decorado com muitas pedras proporcionando esconderijos para os mais fracos e para as fêmeas durante a incubação.
Para os mantermos em boas condições não precisamos mais do que olharmos para o que se passa no seu meio natural destes e outros incubadores bucais, vivendo em comunidades formadas por várias fêmeas e um único macho que acasala com elas todas. Seria portanto incorrecto colocar mais do que um macho no mesmo aquário. Nestas situações um ficaria sempre dominado e provavelmente até poderá ser morto pelo dominante.
Observações: como consequência da sua popularidade e facilidade em reproduzir esta espécie, vemos no comércio variantes completamente degeneradas e que nada têm a ver com os selvagens. Vemos fêmeas das mais variadas cores, desde o branco ao laranja vivo (quase vermelho) como vemos machos azuis, laranjas, amarelo pálido quase brancos. O mais absurdo ainda é que se vêm catalogados como sendo espécies diferentes ou então simplesmente os denominam como “red zebra” ou “blue zebra”, e não são mais do que “misturas” entre variedades geográficas da espécie.
Para além destas espécies, ainda mantenho nos meus aquários outras, tais como: Os Pseudotropheus zebra sp. “red top”, os Metriaclima msobo magunga reef, os Tropheops sp. “red fin”, os Pseudotropheus elongatus mpanga, os Metriaclima sp. membe deep, os Pseudotropheus sp. elongatus chailosi e muitos outros.
Muitas mais espécies poderiam ser abordadas e descritas, no entanto estaríamos aqui uns meses a escrever e provavelmente não conseguiria abordá-las todas e quando estivesse na ultima da lista, provavelmente já tinham sido descobertas mais umas quantas espécies.

Conclusão:

Mas em todo caso, e ficando muito por dizer, considero que o que foi abordado será suficiente para qualquer aficionado se iniciar no “mundo” dos M’bunas e tenho a certeza que nunca se irá arrepender de o ter feito. O mais provável é que depois de montar o seu primeiro aquário de M’bunas, queira montar o segundo ou então evoluir para um com o dobro do tamanho.
O que eu mais espero é que tenha contribuído para o vosso sucesso com estes maravilhosos peixes e que os mantenham com as melhores condições possíveis evitando sempre cometer esses “erros de palmatória” já referidos anteriormente, que muito de nós cometemos no início e que muitos lojistas e criadores cometem propositadamente, tendo sempre e só o objectivo de ganhar mais e sempre mais com os pobres dos peixes que não têm culpa nenhuma dos nossos erros e da nossa ganância.
O meu muito obrigado por conseguirem chegar ao fim do artigo sem desistirem antes!

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