domingo, 31 de agosto de 2008

Metriaclima sp. msobo "magunga reef"

Foto do macho:




Foto da fêmea:




Sinónimos:
Pseudotropheus Msobo Magunga, Pseudotropheus sp. "Deep Tanzania", Pseudotropheus sp. "Deep orange", Pseudotropheus "Magunga Red".

Origem: Lago Malawi.

Habitat:
Este magnífico ciclídeo encontra-se na costa nordeste do lago, na Tanzânia.
Vive no habitat intermédio entre 5 e 10 metros de profundidade nas zonas rochosas. O macho é territorial defendendo uma cavidade entre as rochas. As fêmeas e os jovens, por seu lado, vivem solitários ou em pequenos grupos.

Tamanho:
Tanto o macho como a fêmea poderão atingir uns 10 cm, no entanto a fêmea tem tendência a ficar um pouco mais pequena que o macho com a mesma idade.

Coloração:
Os machos têm a sua cor principal à base de preto muito brilhante, parecendo veludo, com bastantes pigmentos azuis-escuros e alguns claros. Quanto mais nos aproximamos do Norte do Lago (Magunga a Manda) mais pigmentos azuis tem o macho. As fêmeas tem uma coloração que vai desde o amarelo ao laranja vivo.

Água:
Temperatura: 24 a 28 ºC; Ph: 7.5 a 8.5.

Alimentação:
É um comedor de algas (Aufwuchs) que arranca das rochas e de plâncton em plena água, em aquário poderá ser alimentado com uma receita à base de espinafres, camarões, mexilhões, ervilhas e spirulina, como também com flocos secos, granulados, pastilhas, cyclopes, dáfnias, etc….

Reprodução:
São incubadores bocais, depois do conhecido acasalamento (ritual) em T, a fêmea incuba os seus ovos durante 3 semanas. Explicando melhor: a fêmea põe os seus ovos numa cavidade rochosa ou um buraco feito no solo, o macho fertiliza-os e seguidamente a fêmea insere-os na sua boca muito rápido, tão rápido que por vezes o macho não tem tempo de os fecundar. Ao contrário de outros M’bunas a fêmea é uma boa mãe, já se tem visto que a fêmea apanha os filhotes na sua boca mal sente qualquer ameaça.

Comportamento:
É agressivo e territorial como a maior parte dos seus conterrâneos, convém ter só um macho no aquário que deverá ter um volume de pelo menos 150L e com muitas rochas.Podemos colocar no aquário só um casal no entanto colocando várias fêmeas conseguimos um aspecto mais colorido. O macho está sempre em movimento, mas não é muito agressivo desde que mantido com outros m’bunas. A fêmea é calma. É um casal de grande beleza com cores muito vivas.
João Magalhães Ago/2008

Tropheops - repartição geográfica no lago

Habitat Rochoso Superior – zona de arrebentação das ondas
Este género tem muitos representantes que habitam nas zonas agitadas pelas ondas do biótopo rochoso.

T. sp. “olive” é encontrado neste tipo de habitat ao longo da costa Noroeste entre Kande Island e Mdoka, e também ao longo da costa Nordeste entre Manda e Kirondo.
Como a maioria das espécies de Tropheops, esta espécie alimenta-se da “bio-cobertura” arrancando as algas filamentosas. Esta tarefa normalmente é realizada com a ajuda da torção do seu corpo.
Na sua grande maioria são sedentários, o que impede a mistura de genes entre duas populações vizinhas. A cor amarela dos machos pode variar ligeiramente com a sua origem geográfica (distribuição), mas os machos de um mesmo local são muito parecidos entre si.
Os machos de Kande Island apresentam um amarelo menos vivo que os de Chilumba. Os machos dominantes que habitam nas margens da Costa Este têm as barbatanas ventrais escuras. Por sua vez, as fêmeas de todas as populações conhecidas têm todas a mesma cor - cinzentas com barras verticais e horizontais pretas.
Em vários locais do lago, por exemplo em Nkhata Bay e Lupingu, encontram-se mais cinco espécies pertencentes a este complexo e cada uma com características de cor não muito diferentes umas das outras, mas diferentes o suficiente para não se cruzarem entre si.
Os machos T. sp. “olive” defendem os seus territórios – perto da superfície de grandes rochedos – contra todos os intrusos. Como consequência, as algas que não são consumidas pelo macho que ocupa esse território, formam um tapete espesso sobre a rocha. Estes tapetes espessos de algas formam umas manchas esverdeadas visíveis sobre as rochas. Isto poderá servir como um meio complementar de a fêmea reconhecer um bom parceiro para acasalar.

O T. sp. “red cheek” é um mbuna muito popular, habitando o biótopo rochoso superior. Normalmente é exportado de Likoma e Chizumulu Island. A sua distribuição descontínua engloba a Costa Nordeste entre Cape Kaiser e Ikombe e também Tsano Rock no braço Sudeste do lago.
O padrão de cor do T. sp. “lumessi blue” de Meponda é muito parecido ao do “Red Cheek” mais nos machos que nas fêmeas, assim poderia ser uma outra população desta espécie. No entanto investigações mais profundas levaram a que fosse considerada como uma espécie diferente da anterior.
Nos "red cheek" A variação geográfica de cor nos machos consiste numa extensão da cor Laranja sobre a cabeça e sobre as laterais do dorso junto à cabeça, as populações do Sul são mais coloridas. As fêmeas das populações a norte de Lupingu têm uma cor “branca suja”, enquanto que as fêmeas de outras regiões são “brancas amareladas” e em alguns casos amarelas. Esta espécie muito atraente foi chamada de “Big Eye” por Stuart Grant, exportador de ciclídeos do Malawi, no entanto ela é comercializada com o nome “Macrophthalmus Red Cheek”. O nome vernáculo deste peixe é “M’kokafodya” que significa “em brasa” ou “carvão ardente” devido às suas manchas de “laranja vivo” sobre a cabeça e sobre as laterais do dorso.
Os machos defendem territórios na parte superior de grandes rochedos (1 a 2m de diâmetro). Como é óbvio, estes territórios são protegidos com muito zelo contra todos os intrusos, embora a sua agressividade incida principalmente em outros machos da mesma espécie. Neste caso não se vêm “jardins de algas”, como no caso anterior.
A distribuição descontínua desta espécie é impressionante. As populações do norte estão separadas das do Sul por uma distância de aproximadamente 180km e estes últimos a mais de 200km dos de Tsano Rock e Zambo Point. Na exploração aos locais rochosos entre estas três zonas de distribuição, não foram encontradas outras populações, à excepção dos muito parecidos “Lumessi Blue” em Meponda. É pouco provável que estas três populações isoladas tenham desenvolvido o mesmo padrão de cor ao mesmo tempo nos machos e nas fêmeas, o que nos leva a concluir que os “Red Cheek” já tiveram um distribuição mais vasta ao longo da costa Este. O facto de só restarem estas três populações poderá indicar-nos que esta espécie não terá tido muito êxito. A cor muito brilhante do macho é um factor que poderá influenciar a taxa de sobrevivência. Os pássaros podem atacar mais facilmente os machos dominantes já que estes são mais facilmente vistos da superfície.
Habitat Rochoso sem Sedimento
Juntamente com o complexo Metriaclima zebra o gênero tropheops é um dos grupos mais diversificados encontrados no lago e largamente representado no habitat rochoso sem sedimento.

Em consequência da aparente rapidez na criação de variantes coloridas (isoladas geograficamente) e dos meios de reconhecimento dos parceiros, podemos observar numerosas espécies viverem juntas em harmonia.

Em Lupingu – Tanzânia, foram descobertas 7 espécies de Tropheops vivendo a 25 metros umas das outras. Esta mistura de espécies outrora isoladas obriga-as a cruzarem entre si como a diferenciarem-se em espécies distintas. Estas espécies partilham os recursos disponíveis quando o alimento é abundante, mas a coloração dos machos deverá ser a mais variada possível para garantir a segregação genética. Quando o isolamento genético é estabelecido, cada uma das espécies pode especializar-se num nicho específico. Tanto é assim, que normalmente não há problema para encontrarem alimento suficiente, e como o meio não muda, não existe necessidade de modificar a composição da comunidade podendo esta manter-se como era desde a sua formação.
O processo de especialização é activado quando um determinado aprovisionamento medíocre em alimento incentiva a competição, ou quando há mudanças significativas no meio que leva a que as espécies mais especializadas se encontrem numa situação menos favorável.
As pequenas ilhas isoladas albergam normalmente uma ou duas espécies deste complexo. Isto não quer dizer que a concorrência seja mais baixa nestes locais; habitualmente significa que somente uma ou duas espécies ficaram nestes locais isolados. Neste contexto não nos podemos esquecer que o nível da água tem variado ao longo do tempo no lago.
Quando o nível baixa diminui o número de habitats sobretudo para as espécies petrícolas. Algumas ilhas rochosas ficaram de tal forma expostas e secas que as regiões costeiras reduzidas se transformaram em praias arenosas. Uma mudança tão significativa reduz radicalmente o habitat disponível para a maior parte dos mbunas.
As diferentes espécies de Tropheops são agrupadas de acordo com o padrão de cor das fêmeas. Consequentemente o seu agrupamento talvez seja mais artificial do que filogenético. Em numerosos casos os membros de um mesmo grupo povoam habitats similares.

Nos habitats rochosos sem sedimento encontramos espécies de Tropheops que pertencem a 4 grupos diferentes:

1 - o tipo “noir”;
2 - o tipo “mauve”.
3 - os Tropheops dourados;
4 - o tipo “chilumba”;

Grupo "noir"
As espécies do grupo dos Tropheops “noir” caracterizam-se por uma banda preta na dorsal e pelas riscas verticais sobre um fundo escuro. Foram colocadas 5 espécies neste grupo, que é distribuído quase por todo o lago.
É somente neste grupo que encontramos fêmeas O e OB.

1- O T. tropheops, vive em habitats rochosos sem sedimento em torno da península de Nankhuma, em todas as ilhas em torno da península de Nankhuma, e nas ilhas Maleri.
No entanto não se encontram em Mumbo Island.
Em quase todos os locais podem ser encontradas fêmeas OB juntamente com fêmeas normais.

2- T. sp. “chinyamwezi” é uma espécie muito parecida, podendo mesmo ser da mesma espécie, com o T. tropheops.
O recife situado entre o continente e Chinyamwezi Island, que é o único lugar onde ele existe, é também habitado por uma espécie muito parecida com o T. tropheops.
Em Chinyamwezi Island encontramos uma grande percentagem de fêmeas O e OB, provavelmente porque só existe esta espécie de Tropheops em torno desta ilha.
Curiosamente, Chinyankwazi Island é igualmente habitada por uma única espécie de Tropheops – T. sp. “chinyankwasi” – Mas, neste caso é uma espécie muito aparentada aos do grupo Chilumba, e ainda não foram descobertas fêmeas OB.

3- O habitat rochoso sem sedimento das zonas costeiras Nordeste e Noroeste é habitado pelo T. sp. “black”. Os machos desta espécie apresentam uma característica (não única) do grupo dos Tropheops “noirs”, uma mancha amarela ou laranja na parte inferior da cabeça e do corpo.
O T. sp. “black” pode ainda ser encontrado nas zonas rochosas a Norte de Lundu na costa Este do Lago e na costa Oeste a Norte de Mundola Point. Estes (Black) estão limitados a zonas exclusivamente rochosas onde podem ser observados a profundidades bastante elevadas. Os machos são territoriais, as fêmeas vivem sozinhas e são bastante agressivas para as outras da sua espécie.
4- Em Likoma Island podemos encontrar outro membro pertencente ao grupo dos Tropheops “noirs” - T. sp. “dark”. O seu nome provém da cor das fêmeas que são bastante escuras à semelhança das fêmeas do Black.

5- O quinto membro do grupo dos Tropheops “noirs”, o T. sp. “goldbreast” habita na costa de Moçambique em Tumbi Point e entre Liutche e Londo.

Uma espécie suplementar do grupo “noir” o T. sp. “yellow gular”, encontra-se nas zonas costeiras de Moçambique e do Malawi entre Tumbi Point e Chimwalani Reef.
Os machos são azuis com zonas amarelas nas partes inferiores da cabeça e do corpo.
Em Cobwe e Mara Point uma espécie muito parecida a esta vive no biótopo intermediário. Esta espécie é designada por T. sp. “yellow chin” (Tropheops do tipo “dupla banda”).

Grupo Mauve

Os Tropheops do grupo “mauve” preferem água clara e um habitat sem sedimento, como consequência disso são habitualmente encontrados em zonas puramente rochosas.

O T. sp. “mauve” (do grupo “mauve”) é diferente tanto na cor como no tamanho do T. sp. black com quem vive harmoniosamente em quase toda a extensão da sua zona de distribuição.
O T. sp. “mauve” parece estar menos restrito aos habitats puramente rochosos, encontra-se também nos biótopos do tipo intermediário. No entanto estes biótopos são igualmente isentos de sedimento.
O T. sp. “mauve” é normalmente encontrado sobre a costa Oeste – Entre Kande Island e Ngara, e entre Lupingu e Pombo Rocks. O macho em quase toda a extensão do seu corpo apresenta uma cor azul vivo. As fêmeas por sua vez são sobretudo amarelas e amerelas-brancas com as barbatanas anais cor de laranja. As fêmeas da população de Magunga – Tanzânia não são amarelas mesmo se por vezes encontramos algumas de cor amarela. Contudo elas pertencem a uma espécie que anteriormente era chamada de T. sp. “mauve” mas que parecem pertencer a uma outra espécie, T. sp. “mauve yellow”. Depois de serem descobertos machos do tipo Mauve completamente azuis em Magunga, chegou-se à conclusão que as suas fêmeas não são amarelas mas sim argentées, como aquelas que se encontram na parte Noroeste do lago, mas sem a cor laranja na barbatana anal.
Na costa Oeste, os machos “Mauve” apresentam duas variantes de cor diferentes: uma inteiramente azul (os de Ngara, Chilumba, Charo e Nkhata Bay) e a outra azul com uma macha amarela que cobre a cabeça e as laterais junto à cabeça (os de Mara Rocks e Ruarwe). A cor amarela por vezes pode estar imitada à parte inferior da cabeça (os de Mbowe Island, Mphandikucha, e Kande Island). Em Jaro Reef, a Norte de Mkhotakota, existe um Tropheops muito parecido ao Mauve, mas para já esta espécie é caracterizada como T. sp. “tropheops mbenji blue”.
Ao longo da costa Este, a sul de Lundu e a norte de Mbamba Bay, habita uma espécie muito similar, o T. sp. “aurora”, que pertence também ao grupo Mauve, habitando os biótopos exclusivamente rochosos. Esta espécie é caracterizada pelos machos azuis-amarelos com as barbatanas dorsais amarelas e pelas fêmeas de cor cinzenta clara apresentando barras verticais ligeiras. É uma espécie muito comum e provavelmente o Tropheops mais comum desta parte do lago.
Encontramos uma outra situação interessante, colocando mais em evidência a complexidade deste grupo, sobre a costa Sudeste do lago entre Gome - Malawi e N’kolongwe – Moçambique, foram encontradas duas espécies parecidas de Tropheops cujos machos são quase iguais. Só conseguimos distinguir estas duas espécies pela cor da fêmea. Uma das espécies é o T. sp. “yellow gullar” e a outra o T. sp. “gome yellow”. As fêmeas du “Gome yellow” são amarelas com uma banda sub-marginal negra sobre a barbatana dorsal, pelo menos as populações do sul; a norte de Meponda a cor das fêmeas é bege prateado.

Grupo dos Tropheops Dourados

O Tropheops macrophthalmus amarelo dourado, o membro mais comum dentro do grupo dos Tropheops dourados que engloba unicamente três espécies, é comum ao longo de toda a costa Este do lago, no entanto está limitado a apenas alguns locais.
O T. macrophthalmus foi descrito pelo Dr. Ernest Ahl em 1927 a partir de coletas efectuadas pelo Dr. Fulleborn na costa da Tanzânia do lago perto de Alt Langenburg, conhecido actualmente como Lumbila. A sua descrição engloba duas características “chave” na sua determinação que nos leva a concluir que o Tropheops totalmente amarelo é o verdadeiro Tropheops macrophthalmus. Ahl notou que esta espécie não tinha pigmentos sobre as barbatanas e também que esta espécie tem a cabeça muito convexa, quase perpendicular. Pondo de parte os Tropheops totalmente amarelos todas as espécies deste género encontradas a norte do rio Ruhuhu têm marcas sobre as barbatanas; a cabeça das espécies douradas apresenta um perfil muito direito. O Tropheops macrophthalmus vive nas zonas superiores do habitat rochoso, é encontrado ao longo de toda a costa da Tanzânia e de Moçambique. Os machos não são totalmente amarelos dourados, eles têm as barbatanas dorsal e anal azul claro. As fêmeas são bege claro a amarelas-brancas e não têm marcas sobre o corpo ou sobre as barbatanas.
Ao longo da margem Ocidental, a distribuição do Tropheops macrophthalmus está limitada à costa Noroeste entre Mdoka e Chirwa Island (ou talvez Chitimba Bay). Em Chitimba Bay foi encontrada uma outra população de tropheops amarelo dourado a uma profundidade de 22 metros. As fêmeas desta espécie bastante pequena são igualmente amarelas douradas, mas os machos são azuis com uma mancha cor de laranja sobre a nuca e parte anterior do dorso. Contudo foram observados machos territoriais totalmente amarelos, como as fêmeas, e parece que só os machos mais velhos exibem a cor azul. Actualmente esta espécie é considerada distinta, T. sp. “macrophthalmus chilumba”, pelo motivo desta espécie ser encontrada a uma profundidade bastante superior à que normalmente são encontradas todas as populações de Macrophthalmus conhecidas, e no habitat intermédio.
Naturalmente, o facto do recife estar a 20m de profundidade “proíbe” esta espécie de ocupar o habita preferido do T. Macrophthalmus que se encontra habitualmente nos 10m superiores deste habitat puramente rochoso; contudo a sua morfologia e a sua cor juntas justificam um status diferente e distinto. Poderá mesmo não ser um parente próximo do T. macrophthalmus.

Em Chizumulu Island, um Tropheops dourado, chamado de T. tropheops “gold” vive num habitat muito parecido ao do T. macrophthalmus. Os machos desta espécie são mais cor de laranja e não têm as barbatanas dorsal e anal azuis, no entanto é considerado como uma população de T. macrophthalmus. Esta opinião corroborada pela existência de outras espécies tendo uma distribuição discontínua. As fêmeas de Chizumulu Island têm uma cor que vai desde o bege a amarelo-branco como aquelas da maior parte de outras populações. Uma forma habitando Mazinzi Reef e Nkhudzi sobre o braço Sudeste do lago é provavelmente uma espécie suplementar do T. macrophthalmus. Os machos são dourados e têm a barbatana anal azul clara. As fêmeas são cinzentas claro sem barras nem bandas.
O T. sp. “gold otter”, uma espécie muito próxima, vive em torno do Cabo Maclear. Machos e fêmeas desta espécie são amarelos.

Grupo Chilumba

O grupo de Tropheops que engloba mais espécies é sem dúvida o grupo Tipo Chilumba.
Três espécies deste grupo já foram faladas anteriormente – T. sp. “red cheek”, T. sp. “maleri blue” e T. sp. “lumessi blue”.
Os membros deste grupo parecem preferir os habitats rochosos sem sedimento, são encontrados principalmente nas ilhas e nos recifes. A sua distribuição não engloba todo o perímetro do lago, e é devido provavelmente a não encontramos habitats rochosos sem sedimento em toda a costa do lago. O nome deste grupo vem do “Chilumba Tropheops” que é a espécie mais conhecida e mais exportada com o nome de “Chilumba Macrophthalmus”. Habita zonas rochosas entre Mdoka e Chirwa Island na parte Noroeste do lago. As fêmeas são amarelas e os machos são de cor azul escura com uma risca vermelha sob a risca sub-marginal preta da barbatana dorsal.
Os machos possuindo barras azuis com uma banda sub-marginal preta sobre a dorsal, e as fêmeas totalmente amarelas ou cinzento-amareladas com uma cadeia de de machas laterais cinzentas, formam a particularidade deste grupo. A única excepção a esta regra é o T. sp. “Taiwan”, cujas fêmeas não têm nunhuma marca sobre o seu corpo bege prateado. Pelo motivo desta espécie ser a única deste género a habitar Taiwan Reef torna inútil a existência de uma padrão de cor distinto pelas suas marcas no corpo; o padrão de cor do macho corresponde sem dúvida aos indivíduos deste grupo.
O T. ps. “Taiwan” é uma espécie muito grande com um corpo bastante alongado, parecido com a grande espécie encontrada em Higga Reef e Mbamba Bay Island, o T. sp. “higga”. As fêmeas “Higga” têm uma cor de fundo cinzenta amarelada e as laterais com marcas cinzentas. Os machos são parecidos aos Tropheops Chilumba.
Habitat Rochoso Rico em Sedimento

Várias espécies do género Tropheops estão limitadas a este tipo de Biótopo. Curiosamente estas espécies têm todas um corpo mais alongado, quando comparadas com a maior parte das outras espécies deste complexo.
A espécie que ocupa a maior zona de distribuição, sobre as margens do lago, é o Tropheops sp. “red fin”.
Ao longo da costa Noroeste pode ser encontrado entre Hora Mhango e Mara Rocks, e ao longo da costa Este entre a ribeira Ruhuhu na Tanzânia e Lumbaulo em Moçambique. No entanto, na maior parte das localidades que fazem parte da sua área de repartição, não é dos peixes mais comuns, raramente é encontrado em cardumes numerosos.
Os machos adultos têm uma cor à base de amarelado ou laranja escuro; por sua vez, as fêmeas e os juvenis têm uma cor bastante diferente mas muito agradável e atraente. A cor laranja da barbatana anal está na origem do nome desta espécie atribuído por Ribbink e Al. (1983b). Os machos são bastante territoriais mas pouco agressivos, desde que nenhum intruso cruze o seu território. Por vezes os machos defendem um território de areia entre os rochedos, outras vezes escavam uma cratera encostada a um rochedo ou mesmo debaixo deste. Esta espécie habita zonas pouco profundas, raramente é encontrado a profundidades superiores a 10m.
Comportamento em aquário:
Mantenho esta espécie num aquário comunitário do Malawi, onde ele domina perfeitamente todo o aquário, devido em parte ao seu tamanho. Como já foi dito anteriormente, nenhum intruso consegue passar pelo seu território sem levar uma corrida, no entanto na restante área do aquário, com excepção das fêmeas, raramente persegue outros peixes. Uma um espécie que cresce bastante quando comparada à maior parte dos mbunas, mas que se pode ter com outros mbunas mais pequenos sem haver problemas de agressividade por parte destes.
O casal que tenho neste momento já teve diversas ninhadas, inclusive já tenho mais uma fêmea jovem (filha do casal) no aquário para lhes fazer companhia e assim evitar que as perseguições do macho sejam feitas sempre à mesma fêmea. Este ciclídeos não é muito comum nas nossas lojas, embora por vezes apareça nas listas de importação que habitualmente as lojas apresentam aos clientes. A quem quiser adquirir esta espécie aconselho um aquário no mínimo com 1,5 m de frente e pelo menos 300L, já que o território que este ciclídeos domina chega a ultrapassar os 50cm de diâmetro.
João Magalhães Ago/2008

Aquário do Hall

Este é o aquário que tenho colocado no hall de entrada dedicado aos ciclídeos africanos (malawi e tanganyika), espécies agressivas
Foto tirada em Mar/2006 (montagem)

Foto tirada em Mar/2006 (15 dias após)

Foto tirada em Set/2006

Foto tirada em Ago/2007 Foto tirada em Fev/2008

Foto tirada em Mar/2008

Dimensões: 1900X400X500 mm (vidro de 15 mm)
Iluminação: 2X58W fluorescentes
Substrato: areia da praia
Decoração actual: pedras
Filtragem: 1 externo Rena III, 2 internos Fulval 4 plus
Fauna actual (Ago/2008):

Metriaclima sp. membe deep

Metriaclima aurora

Aulonocara jacobfreibergi "Eureka"

Eretmodus cyanostictus "zâmbia"

Haplochromis aeneocolor "lac George & Edward"

Labeotropheus fuelleborni

Labeotropheus fuelleborni OB

Tropheus moorii golden kazumba

sábado, 30 de agosto de 2008

Aquário do escritório

Uma foto tirada em Ago/2008
Uma foto tirada em Jul/2008
Características do aquário:
Dimensões: 1000X400X500 mm (200L) feito com vidro de 12mm
Água: Ph7,5; Temp: verão - 25 a 30 ºC; inverno - 19 a 21 ºC
Iluminação: 2X39 T5
Decoração e flora: areia da praia, troncos, pedras, musgo de java, equinodoros, ambulia sessiliflora.
Fauna:
Ectodus descampsii
Callochromis pleurospilus
Puntius titteya
Limia nigrofasciata
Limia tridens
Girardinus metallicus
Ganbuzia
Este aquário está montado desde Jan de 2008, comecei por ter só taganyikas, mas posteriormente coloquei alguns viviparos.

João Magalhães Ago/2008



Aquário da Sala

Algumas fotos do aquário por data (do actual ao mais antigo)









Um aquário actualmente dedicado principalmente aos ciclídeos americanos.
Dimensões: 1900X450X500 (vol. bruto aproximado 425L)
Aquário feito por medida com vidro de 15mm e colado com silicone próprio para aquário.
Sistema de filtragem: 1 filtro externo fluval 404, 2 internos fluval 4 plus.
Iluminação: 2x58 fluorescente (osram 765)
Temperatura da água: Verão - 25 a 30 ºC, Inverno - 19 a 22ºC
PH: aprox. 7,5
Substrato: areia da praia.
Decoração: pedras, troncos (torga) alguns fetos de java e alguns equinodorus.
Fauna actual:
Geophagus steindachneri
GymnoGeophagus meridionalis
Satanoperca jurupari
Hypsophrys nicaraguensis
Este aquário está montado desde o início de 2005 sofrendo várias alterações de decoração e fauna até então.
João Magalhães 30/08/2008

sábado, 23 de agosto de 2008

Geophagus dicrozoster

Geophagus dicrozoster (Hechel 1840)

Familia: Cichlidae;
Sub-família: Geophaginae;
Tribo: Geophagini;
Gênero: Geophagus, Heckel, 1840

O Geophagus dicrozoster pertence ao complexo (grupo) dos geophagus surinamensis (do Suriname).
Distribuição:
O Geophagus dicrozoster descrito é proveniente do Rio Cinaruco na Venezuela, no entanto ele poderá ser encontrado em outras zonas: Venezuela (Rio Casiquiaire, Rio Negro, Rio Orinoco, Rio Caroni, Rio Aro, Rio Ventuari, Rio Cinaruco, Rio Caura, Rio Capanaparo, Rio Apure, Rio Atabapo), Bolivia (Rio San Martin (...?) & Colombia (Rio Orinoco, Rio Tomo, Rio Bita (...?)) Como se pode ver têm uma distribuição bastante alargada e consequentemente várias populações. O tamanho pode atingir os 25 cm, embora algumas destas variantes possam ficar-se pelos 15 a 20 cm. As manchas laterais nesta espécie (dicrozoster) são mais pequenas e mais redondas que nos restantes. Têm ocelos, olhos vermelhos e barras laterais vertivais.

Reprodução:
Incubadores bucais dos alevins (depois de nascerem os pais guardam-nos na boca). Normalmente escolhem uma pedra plana e lisa para porêm os ovos e de seguida cobrem-nos com areia fina com o objectivo de os protegerem. Após 2 dias os ovos ecludem e será nessa altura que um dos progenitores os apanha com a boca, normalmente a fêmea.

Manutenção:
Deve-se ter um solo composto por areia fina e sem arestas (evitam-se feridas na boca dos peixes). Devem-se manter em cardume, quantos mais melhor pare evitarmos que se sintam muito tímidos. Deve-se previligiar a largura do aquário e não a altura. Deve-se decorar o aquário com pedras (não calcárias), troncos, e algumas plantas (valisnérias) sempre protegidas por areia mais grossa. Os companheiros ideais serão peixes calmos (krobia, Satanoperca, Nannacara, etc...) e também ter alguns ancistrus ou outros do gênero para mantermos as pedras e os troncos isentos de algas. O ideal para a água será termos uma água neutra ou ligeiramente ácida e mole para nos aproximarmos das características fisico-quimicas da água do seu meio natural. São peixes muito exigentes com a qualidade da água. Relativamente aos pertencentes ao grupo dos surinamensis preferem águas calmas e sombrias.

Protomelas taeniolatus Namalenje (Red Empress) TREWAVAS, 1935




Sinónimos: Haplochromis boadzulu
Características da água:
Deveremos manter uma temperatura em torno dos 25ºC e um Ph superior a 7,5.
Tamanho: 15 cm
Distribuição / Habitat:
Esta variante (namalenge) é encontrada em torno da ilha Namalenge na costa Sudoeste do lago malawi, contudo podemos encontrar esta espécie distribuida por todo o lago, havendo diversas variações geográficas com diferentes padrões de cor dependendo da zona da captura.
A Protomelas taeniolatus é o "não-mbuna" mais frequentemente encontrado no habitat rochoso sem sedimento. É o "haplo" mais exportado do lago malawi. No comércio da aquariofilia é normalmente conhecido como "Haplochromis stevini" ou "Haplochromis red empress".
Comportamento e Manutenção:
O aquário deverá ter pelo menos 1,5m de fachada e um volume superior a 300L devido a ser uma espécie bastante grande e bastante agressiva. Dificilmente poderemos manter 2 machos no mesmo aquário, mas deveremos manter mais do que uma fêmea.
Reprodução:
Os machos defendem normalmente um território situado no cume de uma rocha de grande ou médio porte e onde normalmente abundam as algas. As fêmeas quando estão prontas a acasalar aproximam-se do território do macho escolhido. Os ovos são recolhidos pela fêmea e fertilizados posteriormente pelo macho já dentro da boca da fêmea. Este acto deve-se a serem territórios muito vulneráveis a diversos predadores de ovos. Depois de 3 semanas aproximadamente, a fêmea larga os alevins nas fendas das rochas, no entanto eles durante um mês tentam abrigar-se na boca da mãe.

Em aquário, o macho escolhe um canto do aquário ou eventualmente um local sob uma pedra ou um tronco, abrindo uma pequena cratera na areia, e será para este local que ele irá atrair a fêmea e se dará o acasalamento.
O casal que tenho já acasalou 2 vezes, no entanto de ambas a vezes a fêmea largou os ovos passados 7 dias. Ainda não encontrei explicação para este facto. Na próxima reprodução irei isolar a fêmea para tentar que ela mantenha os alevins na boca o tempo necessário para levar a incubação até ao final.

Alimentação:
É uma espécie com um regime alimentar à base de algas (Aufwuchs) presas nas rochas e de pequenos invertebrados que nelas se encontram, à semelhança dos mbunas. Quando o planton é abundante vemos também muitas vezes Protomelas taeniolatus alimentarem-se em plena água. Em aquário devemos providenciar-lhes uma alimentação rica em vegetais e spirulina.




Eretmodus cyanostictus – Boulenger 1898

Fotos:
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Introdução
O grupo de peixes conhecidos pelo nome de «ciclídeos gobbie” compreende quatro espécies descritas e talvez duas não descritas ainda. Todas estas espécies estão adaptadas a águas turbulentas no limite superior do habitat rochoso do lago Tanganyika. Estas adaptações traduzem-se por uma redução da bexiga-natatória que permite ao peixe “colar-se” ao fundo imediatamente quando deixa de nadar.
Estes pequenos ciclídeos, nenhum de entre eles passa o tamanho de 8cm de comprimento no meio natural, vivem nas zonas de pequenas rochas situadas junto da costa, mesmo na extremidade da superfície da água do lago, que, pela acção das ondas, a água é muito rica em oxigénio. Manter uma taxa elevada de oxigénio é um dos parâmetros mais importantes para manter estes peixes em aquário. No caso contrário, eles refugiam-se à superfície do aquário ou mesmo na zona à saída da bomba, sinal de uma deficiência de oxigénio dissolvido. Desde que a taxa de oxigénio dissolvido seja suficiente, estes peixes passeiam-se por todo o aquário, tendo assim um comportamento natural e muito activo.
O Eretmodus Cyanostictus é um ciclídeo que encontramos ocasionalmente nos aquários de venda das lojas. A sua face « apalhaçada » é muitas vezes a razão de os comprarmos. E a partir desse momento nunca mais deixamos de os ter. É muitas vezes também chamado de « ciclídeo gobby » devido às suas semelhanças dos gobbys marinhos. Podemos encontrar este ciclídeo quase em toda a extenção do lago Tanganyika sobre diversas formas ou variantes diferentes : o seu padrão de cor varia consideravelmente segundo o seu local de captura.
O Eretmodus cyanostictus habita a zona superior da água, zona esse denominada pelo Ad Konings nos seus livros como « habitat superficial onduloso ». Ele é raramente encontrado a mais de três metros de profundidade. Normalmente vivem em casais mas não defendem nunhum território específico. Como colonizaram as margens rochosas de pequena profundidade, podemos dizer com alguma ironia que é o único ciclídeo que podemos capturar sem meter os pés na água !
Um dos principais aspectos que nos leva a simpatizar com estes ciclídeos, não falando no seu aspecto cómico e o seu modo de reprodução espetacular, é a sua cor escura com pintas por todo o corpo azuis turquesa eléctricas.
Cyanostictus é uma palavra de origem grega composta de « kyaneos » - azul e « stigma » - marca. Com efeito, o contorno da boca é azul e algumas pintas da mesma cor percorrem a cabeça e na maioria dos casos o corpo também, a quantidade destas pintas varia com o lugar onde são capturados. Estas cores intensificam-se na época do acasalamento, é aqui que eles ficam verdadeiramente magníficos.
No lago, os Eretmodus vivem junto das rochas passando os dias a arrancar a rica cobertura biológica para comerem as algas e pequenos invertebrados que nelas se alojam. Neste habitat que recebendo uma quantidade elevada de luz solar consequência da sua pequena profundidade, as pedras encontram-se cobertas de uma grande quantidade de algas, sendo aqui que eles se alimentam e conseguem combater o seu apetite voraz.
Toda a via, podemos dizer que os seus dentes cor-de-laranja que sobressaem na boca estão perfeitamente adaptados para raspar as superfícies das pedras. No aquário, eles reproduzem este comportamento raspando os vidros, as pedras, as folhas mais largas das anúbias.
A sua facilidade de captura no seu meio natural é a principal razão de quase todos os Eretmodus que encontramos no mercado serem selvagens. Com efeito, a introdução de peixes de origem selvagem no aquário é por vezes a causa da introdução de germes patogénicos (hexamita, doença do buraco na cabeça, etc…) dentro do aquário, contra as quais estes peixes são imunes mas os peixes que temos no aquário não o são. Por esta razão devemos tratar preventivamente todos os peixes de origem selvagem num aquário hospital, com Flagyl, antes de os introduzirmos no aquário principal. De qualquer maneira, e na maior parte dos casos esta desparasitação é efectuada no exportador.
A dose recomendada para este tratamento preventivo será de 500 a 1000mg para 100L, ou seja, 2 a 4 pastilhas de 250mg para cada 100L de água, repetindo este tratamento 3 vezes com 48 horas de intervalo entre cada tratamento. Não é necessário renovar a água durante nem depois do tratamento. Como diz o ditado : mais vale prevenir que remediar…

DistribuiçãoGeográfica
Em 1988, Boulenger descreveu o Eretmodus cyanostictus a partir de espécimes capturados perto de Mpulungu (Zâmbia), conhecido até então por “Kinyamkolo”. Na parte sul do lago, é a única espécie de ciclídeos gobbi presente e contrariamente na metade norte do lago, esta espécie vive na companhia de três outras espécies: Spathodus erythrodon e o Tanganyicodus irsacae na maior parcela desta metade do lago e do Spathodus marlieri nas águas do Burundi.
A maior parte dos Eretmodus que encontramos à venda no mercado e consequentemente nos nossos aquários são provenientes do Burundi, e apenas alguns exemplares são exportados da Zâmbia. Não há certezas que a população proveniente do Burundi seja da mesma espécie, actualmente os Eretmodus provenientes do Burundi e de toda a parte Norte do lago são classificados como Eretmodus sp. Norte Cyanustictus.
Um facto é que ele partilha o seu habitat com três outras espécies e que provavelmente foi afastado da sua zona de predilecção desenvolvendo um comportamento alimentar diferente.
Se compararmos estas duas formas ou variantes, poderemos constactar que os Eretmodus Cyanostictus do sul têm uma boca mais terminal (ponteaguda) do que a variante do Burundi. Se esta diferença estiver presente em todas as populações, devemos considerar estas duas formas como sendo espécies diferentes, e como tal não devemos juntá-las nos nossos aquários.
Ao longo do tempo, diversas variantes geográficas de Eretmodus foram exportadas e outras ainda são encontradas pela 1ª vez no lago. Estas diferenças, algumas mais significativas que outras, não são tão evidentes que entre outras espécies de incubadores bucais do lago, no entanto é desaconcelhado juntarem-se duas variantes de Eretmodus no mesmo aquário.

Origem
É muito provável que os ciclídeos gobie do lago tanganyika e as espécies do género Schwetzochromis, que continuam a viver nos estuários, tenham um ancestral comum.
S. Malagaraziensis pode ser encontrado unicamente no delta do Malagarazi e este incubador bocal vive principalmente em zonas muito movimentadas pela corrente.
Ainda não se sabe se este peixe tem um comportamento reprodutor de incubação biparental, mas de qualquer maneira é muito parecido aos gobies do tanganyika. O macho e a fêmea Schwetzochromis têm a mesma cor, o que poderá ser um indicador para eles não adoptarem a incubação maternal, tanto que os machos são desprovidos de ocelos pelo que não poderão “reproduzir” ou simular os ovos na barbatana anal.
Nenhum ciclídeos gobi apresenta acelos na barbatana anal. A primeira espécie muito parecida com os Schwetzochromis e que se adaptou a viver no seio do lago poderá ser o Simochromis marlieri. Em consequaência do seu regime omnívoro, uma especialização voltada para as algas poderá ter acontecido (Eretmodus) ou ter evoluído para os invertebrados (Tanganicodus). Estas espécies melhor adaptadas foram capazes de se reproduzir facilmente no lago, e o S. marlieri (mas rudimentar) ficou-se pelas zonas envolventes do delta de Malagarazi.

Alimentação
O seu comportamento alimentar na natureza indica-nos o que fazer para os alimentarmos no aquário. Devemos ter em conta a sua especialização vegetariana. Como todos os outros peixes vegetarianos, os eretmodus têm um aparelho digestivo particularmente long, ao contrário dos peixes carnívoros, que o têm muito curto. Assim, se alimentarmos o eretmodus com inseptos ou coração de boi, ou outros alimentos ricos em proteinas, mais tarde ou mais cedo temos os nossos eretmodus mortos.
Devemos incluir no seu menu uma percentagem elevada de vegetais, tais como a spirulina. Temos também um alimento indicado para eles: a papa que se faz também para os mbunas do malawi.
Ad Konings, refere que se deve evitar a todo custo dar-lhes artémia, um alimento que em pouco tempo lhes pode causar distúrbios intestinais, à excepção de quando são alevins podendo-se complementar a sua alimentação com artémia recém nascida.
Em todo caso os eretmodus são peixes "glutões", comem que se fartam, normalmente no fim da refeição ficam com uma barriga bem redondinha e gorda, no entanto, devemos ter cuidado com a quantidade de comida administrada porque podemos estar a dar demais e assim poluirmos a água do aquário.

Reprodução
Quando um casal está pronto para se reproduzir, escolhe uma pedra mais ou menos plana e é debaixo desta que se desenrola todo o ritual. Os dois parceiros colocam-se lado a lado e a fêmea roda em círculos em torno de si própria. Em cada volta ela vai largando um ou mais ovos os quais são apanhados na volta seguinte. O macho também roda sobre si próprio largando o esperma nos locais onde a fêmea vai largando os ovos. A fecundação dos ovos parece ser feita no local de postura e não na boca da fêmea que vai mordendo a barbatana anal do macho provavelmente para avaliar o seu esperma. Entre 10 e 30 ovos são postos durante o acasalamento, os quais vão ser incubados pela fêmea nos primeiros 12 dias seguintes à postura. Em vez do comportamento clássico praticado pelos incubadores bucais do tipo maternal, os Eretmodus são incubadores bucais bi-parentais. Este modo de reprodução constitui um método intermédio entre os que põem sobre o substrato e os incubadores bucais maternais. Passados os 12 dias de incubação, a fêmea dá a entender ao macho que lhe vai passar as larvas. Os ovos neste momento ainda não atingiram o seu estado final de desenvolvimento, apenas de vê uma cabeça minúscula e uma cauda muito finas agarradas ao ovo (saco vitelino) do qual eles se alimentam até ao seu desenvolvimento final. O casal procede então à passagem dos alevins. O macho vai recolhe-los e incubá-los durante mais 12 dias aproximadamente. Passados estes dias ele irá largas os alevins que são cópias exactas dos pais em tamanho reduzido e que medem aproximadamente 8 a 10 cm.
Normalmente, e devido principalmente à inexperiência do casal, a fêmea incuba os ovos sozinha durante os 24 dias, mas contudo depois da 2ª ou 3ª incubação normaliza e o macho começa a incubar os ovos ao fim do tempo previsto.
Os alevins nascidos, tendo em conta que o casal não cuida deles após o seu nascimento, podem ser capturados e separados num aquário de crescimento e alimentados com comida reduzida a pó, larvas de artémia, ou outro alimento que eles possam comer.

Conclusão
Se por acaso tiverem oportunidade de encontrar Eretmodus Cyanostictus em alguma loja de aquariofilia e se tiverem um aquário vazio para eles, não exitem em comprá-los e experimentar manter estes belos “palhaços” do Tanganyika, com um comportamento geral e reprodutivo foram do comum e muito interessante. Se experimentarem, podem ter a certeza que não se vão arrepender, irão ficar fascinados com estes pequenos peixes.
Neste momento tenho 2 casais reprodutores, um casal Eretmodus cyanostictus zâmbia e um casal Eretmodus cyanostictus kasanga (os apresentados nas fotos). Os zâmbia já tiveram várias reproduções, os kasanga vão na 2ª reprodução (uma a crescer no aquário de crescimento (cerca de 20 alevins) e a 2ª ainda na boca da fêmea!
João Magalhães 23/08/2008

Telmatochromis sp. “temporalis shell”

Fotos
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Este pequeno ciclídeo proveniente do lago Tanganyika, medindo no máximo 7cm (4cm para a fêmea) é muito raro aparecer nas lojas portuguesas e a informação existente na internet também não é muita. A informação que é habitual encontrar-se é quase exclusivamente relativa a experiências de aquariófilos.
Pode-se dizer que o T. temporalis shell é uma forma anã do T. temporalis (Poll, 1946) já que a principal diferença entre eles é o tamanho. No entanto, e muito provavelmente devido a esta diferença, o T. temporalis shell tem comportamentos diferentes no que respeita ao seu habitat preferido para viver e se reproduzir.
Pode ser encontrado em quase todo o lago Tanganyika, no entanto os que se têm capturado são provenientes de do Sul do lago (Sumbu, Mbity), na costa central (Karilani Island), e ainda no Norte (Nyanza Lac).
No seu meio natural ele vive em campos de conchas mortas de Neothauma e usa-as para se proteger e procriar, ao contrário do T. temporalis que vive em zonas rochosas e usam as cavidades entre elas para se protegerem dos predadores e para procriarem.
Deverão ser mantidos numa água bastante alcalina e dura, à semelhança de outras espécies provenientes deste lago, e a uma temperatura de 25 a 27 ºC.
A minha experiência com estes pequenos ciclídeos começou quando em Outubro de 2004 (Feira de Vichy) comprei alguns indivíduos ainda de tamanho reduzido. O seu crescimento foi bastante rápido e depressa consegui ver um casal formar-se e começar a distribuir porrada em tudo o que mexesse. Não toleram ninguém perto da concha onde fazem o “ninho” mesmo indivíduos desta espécie. Peixes robustos como os “plecos” ou os “limpa vidros” têm dificuldade em resistir aos ataques destas “feras”.
Actualmente mantenho um casal, o macho com 6cm e a fêmea com 4cm aproximadamente, num aquário de 60Lts (60x35x35), onde já fizeram três posturas e até agora bem sucedidas, os alevins estão bem de saúde e com um ritmo de crescimento bastante bom. Eles protegem a sua prole como nunca vi acontecer com outros ciclídeos, quando atacam é mesmo para matar. Para se aperceberem desta agressividade que estes ciclídeos possuem, eu um belo dia decidi experimentar colocar um casal de N. ocellatus juntamente com eles num aquário de 200L, não passou uma semana sem que o casal de ocellatus aparecesse morto. Os cyprichromis que normalmente só ocupam a zona superior do aquário, mesmo estes são “caçados” com uma brutalidade incrível. Ainda relativamente à reprodução e comportamento na criação dos filhos, há relativamente pouco tempo e após ter observado o desenrolar das várias posturas, pude constatar um pormenor muito interessante relativo ao cuidado que estes peixes têm com as crias: quando a ninhada mais velha atinge um determinado tamanho que os pais considerem já perigoso para estarem com a ninhada mais nova, podendo uns ser predadores dos outros, nesse caso os pais consideram que a ninhada mais velha terá que arranjar novo lar e então começam a não deixar chegar por perto do ninho esses filhos maiores, tendo estes que se esconder dos pais e principalmente da mãe já que este comportamento é quase exclusivo da fêmea, o macho parece não se incomodar muito com as diferentes ninhadas.
Uma informação curiosa recolhida de alguns “pescadores” locais é que o tamanho máximo destes peixes capturados é de 4cm e quando colocados em aquários de quarentena rapidamente atingem os 7cm (isto para os machos), e segundo eles poderá ser devido aos de maior tamanho serem devorados pelos predadores devido ao facto de já não caberem nas conchas? Outra teoria, em redor deste facto, também defendida por vários investigadores, prende-se com um mecanismo natural de “defesa” que não os deixa crescer perante a ameaça permanente dos predadores, ou seja, se crescerem são comidos, então naturalmente eles não crescem e assim continuam a poder usar as conchas como abrigo.
À excepção de se manterem sozinhos, este ciclídeo deverá ser mantido num aquário relativamente grande (300L), Com companheiros de aquário peixes robustos tais como Altolamprologus, alguns Neolamprologus ou Variabilichromis, ao contrário os Julidochromis por exemplo não serão de todo uma boa opção, muito menos outras espécies de Telamatochromis ou outros conchículas (N. ocellatus, N. similis, N. meeli, etc…) já que mesmo com agressividades parecidas vão lutar pelos mesmo nichos e como tal uns ou outros saem prejudicados.
O biótopo preferido por eles será um amontoado de rochas médias bem firmes, de preferência pousadas no vidro do fundo, já que estes pequenos ciclídeos são uns escavadores natos e que gostam de escavar e decorar o seu território ao gosto deles.
Perto das rochas será necessário providenciar um “campo” de cochas de tamanho médio, Neothauma de preferência ou te tamanho equivalente, para que numa destas conchas a fêmea faça a suas posturas e o macho consiga também entrar na concha ajudando na “ventilação” dos ovos fazendo com que o sucesso da postura seja maior e a fêmea tenha mais tempo para passear pelo aquário.
Este ciclídeo é bastante prolífero, fazendo posturas regulares de 3 em 3 semanas aproximadamente e nascendo em cada uma delas entre 50 a 80 alevins.
Os alevins começam a sair da concha e a nadar em plena água aos 10 dias, mas para os vermos facilmente no aquário teremos que nos aproximar com muito cuidado sem que eles nos vejam, pois quando detectam algum movimento desaparecem todos para dentro da concha ou de uma fenda que exista nas rochas mais próximas.
O seu regime alimentar é quase exclusivamente vegetariano mas não recusa qualquer alimento mesmo que este seja de origem animal, logo devemos evitar todo o alimento com teor elevado de proteínas animais, como a artémia, coração de boi ou outros. As pastilhas de spirulina serão um bom alimento para os pais como para os alevins.
De todas as espécies de conchícolas que mantenho, esta deverá ser a mais interessante devido ao seu comportamento “agressivo” e principalmente ao seu carácter muito “vincado” não se deixando intimidar por nenhum peixe mesmo que este seja o dobro ou o triplo do seu tamanho.
Outra particularidade deste pequeno ciclídeo é a sua capacidade de se adaptar à cor do substrato existente, ou seja, se o substrato for claro ele fica com uma cor quase transparente, mas se o substrato for escuro ou se estiver sobre uma rocha escura a sua cor é castanha escura quase negro. A sua alteração do estado de “stress” também altera por vezes a sua cor alternando entre castanho-claro (quase bege) e o castanho-escuro quase preto.Aconselho todos os amantes dos ciclídeos do Tanganyiva que experimentarem manter esta bela espécie de conchícola, mesmo se a sua cor não é das mais interessantes e mais vistosas, irá com certeza animar o vosso aquário, tanto pelo seu comportamento muito marcado como pelo seu comportamento reprodutor como pelo seu instinto de arquitecto paisagístico de “castelos de areia”, tendo sempre em conta a sua agressividade para com os outros habitantes e com a alimentação, mas como referi no inicio, não será fácil de encontrar nas lojas portuguesas.

Ectodus descampsii - Boulenger, 1898

Nome científico: Ectodus descampsii
Origem: endémico do lago Tanganyika (região sul)
Tamanho: 12cm
Alimentação: omnívoro
Temperatuta: 24 a 28 ºC
Ph: 7,5 a 9


Descrição e Dimorfismo:
Uma linda pequena « sardinha » do Tanganyika, Ectodus descampsii não é de todo desprovido de atracções, o Ectodus vindo do sul é o verdadeiro Ectodus. Um ciclídeo muito parecido vindo do norte, denominado Ectodus sp. “norte” capturado normalmente no Burundi é mais alongado, o océlo está situado mais à frente na dorsal, sendo esta menos alta. Apesar destas diferenças mão deixam de ser muito parecidos.
O Ectodus descampsii apresenta uma certa pigmentação de amarelo limão nas barbatanas, preto brilhante nas barbatanas peitorais e no océlo e por todo o corpo apresenta reflexos brilhantes prateados.
Os machos atingem normalmente os 11/12 cm, as fêmeas raramente passam os 11cm.
É de salientar que certas fêmeas dominantes possam adquirir uma pigmentação e um comportamento dominador que nos pode fazer pensar que se trata de um macho, e sobretudo quando este não existe.
Manutenção em aquário:
Com o objectivo de observarmos o verdadeiro comportamento desta espécie, em particular na fase de acasalamento (a realização de uma cratera que servirá para o acasalamento), deveremos providenciar um aquário com 40/50 cm de largura e um bom comprimento que neste caso será de 150cm.
É uma espécie que vive em cardume, logo teremos que adquirir um pequeno grupo de 6 ou mais elementos, que será uma boa quantidade para 400L (2M4F). Um macho único no aquário não mostrará toda a sua beleza, por isso é preferível termos pelo menos 2. Assim ambos irão exibir-se para as fêmeas mostrando todo o seu esplendor.
O Ectodus é uma espécie sensível, mesmo passados alguns meses após a aclimatização, aos parâmetros da água. Não só os indivíduos selvagens são sensíveis, mas também os criados em cativeiro, embora estes últimos sejam mais tolerantes aos parâmetros físico-químicos da água. O pH deve rondar os 9, embora acima dos 7,5 já seja razoável, e a condutividade deve andar por volta dos 600ys/cm. Poderemos adicionar na água sais do Tanganyika normalmente encontrados no mercado para colocarmos os parâmetros próximos dos pretendidos.
A procura de comida ocupa-lhes uma grande parte do tempo, eles nadam junto do fundo enterrando a boca na areia recolhendo-a juntamente com o que nela se encontra, durante largos segundos largam as pequenas partículas não comestíveis pelas brânquias e os grãos de areia mais grossa pela boca.
Deve-se evitar a colocação de outras espécies arenículas no mesmo aquário. As Lestradea perspicax por exemplo, dominam-nos claramente e nenhuma cratera será visível que não seja a destas. Nenhuma reprodução dos Ectodus será possível na presença desta espécie. Assim é aconselhável escolher muito bem as espécies que vamos misturar com os Ectodus. Estas espécies devem ser muito calmas e de pequeno porte.
Não esqueçamos que o Ectodus descampsii é um peixe relativamente nervoso (stressado), o que significa que é um peixe bastante propenso a desenvolver patologias, em particular as digestivas à semelhança de outros géneros dos três grandes lagos. Como tal na presença de qualquer sintoma de rejeição de comida, de falta de apetite ou alteração na cor das fezes, devemos tratar o peixe rapidamente.
Se o peixe incha, nenhum medicamento o poderá salvar na maioria dos casos, pelo contrário se ele ainda apenas apresenta as fezes brancas e filamentosas, um produto à base de dimetridazol poderá ser eficaz.
Um produto normalmente utilizado nestes casos é o ALAZOL, à razão de 5ml/100l, é preciso manter o aquário sem luz durante o tratamento. Em dois ou três dias os peixes começam de novo a alimentar-se. É recomendável mudar 50% da água no final do tratamento.
Em casos de infecções ligeiras, a colocação de um filtro UV durante 24h pode ser suficiente para erradicar uma boa parte dos parasitas permitindo aos peixes se defenderem melhor contra esta infecção. Não esquecer contudo adicionar 2g/l de sal, dose correspondente aproximadamente à pressão osmótica do corpo do peixe, e assim poder utilizar toda a sua energia no combate à infecção.
Como outros géneros do lago Tanganyika, os Ectodus têm a capacidade de se enterrar na areia em caso de perigo, eles desaparecem quando se sentem ameaçados ou na presença de um predador.
Quando por exemplo colocamos uma rede no aquário ou fazemos um gesto brusco com a mão dentro deste, normalmente eles enterram-se completamente na areia. São momentos bastante engraçados de se observar.
Reprodução em aquário:
Esta espécie é incubadora bucal como todos os outros “ectodini”. O acasalamento desenvolve-se numa cratera feita pelo macho com todo o cuidado, optando por uma construção em que a granulometria da areia aumenta do interior da cratera até ao exterior.
Se alguma fêmea passa por perto do seu ninho, o macho começa logo com o seu ritual de acasalamento em forma de circulos, com todas as suas barbatanas esticadas e com as suas cores no máximo do seu explendor. As barbatanas ventrais ficam praticamente pretas e o ocelo bem marcado na dorsal.
Se a fêmea estiver grávida, ela colocará logo alguns ovos e começará o acasalamento propriamente dito.
Os ovos são bastante grandes, em torno dos 3 a 3,5 mm de comprido, são de forma oval. Uma fêmea adulta tem cerca de 25 a 30 alevins em cada incubação.
Depois dos alevins saírem da boca da mãe, podemos observar que estes são cópias dos pais, com o ocelo da dorsal já bem visível. Eles ficam todos juntos de forma compacta, este comportamento é uma forma de defesa contra possíveis predadores no seu meio selvagem e que se pode observar também a aquário.
Conclusão
Os Ectodus descampsii são uma espécie muito interessante e muito bonita. Pode ser uma espécie muito frágil e que stressa com facilidade se não escolhermos os parceiros de aquário com algum cuidado. Se queremos que as reproduções sejam bem sucedidas e os alevins cresçam no aquário dos pais, devemos providenciar um aquário espaçoso, já que os jovens começam muito cedo a abrir crateras e a formar territórios. È sem dúvida um espécie que eu aconselho a manter-se nos nosso aquários, uma espécie que vale a pena “descobrir”.

João Magalhães 23/08/2008

Triglachromis otostigma

Triglachromis otostigma – Regani 1920


Sinónimos:Limnochromis otostigma (Sci);
Oriegem: Lago Tanganyika
Tamanho: 12 a 14cm
Ph: 7,5 a 9,0
Temperatura: 24 a 28ºC
Gh: 10 a 15

Descrição/Distribuição: O Triglachromis otostigma pode ser encontrado por todo o lago (Burundi, Congo, Tanzânia e Zâmbia). É encontrado em fundos arenosos e a profundidades entre os 2m junto à costa até aos 50m. Vive em cardumes numerosos e tem um comportamento pacífico e gregário. A sua alimentação é composta de pequenas presas que ele recolhe remexendo a areia com a sua grande boca. As barbatanas ventrais possuem sensores que lhes permitem detectar comida sobre a areia ou na presença de águas menos limpas e com visibilidade baixa, permitem a sua orientação.
Estes ciclídeos atingem normalmente os 10 a 12 cm.

Manutenção/Comportamento: É um escavador por excelência, abrindo grandes crateras na areia em poucas horas. Em aquário poderá ser um risco quando se tem montes de pedras empilhadas umas nas outras, pelo que é desaconselhável este tipo de decoração. Em vez disso deveremos providenciar vários túneis para eles se esconderem, como por exemplo tubos pvc.
Não é um ciclídeo muito interessante pelas suas cores, mas muito interessante pelo seu comportamento atípico.

Reprodução:

O Triglachromis otostigma pratica a incubação bucal do tipo bi-parental, as larvas são frequentemente trocadas entre os pais. No seu meio natural usam crateras sob a areia, escavadas pelos próprios, para se reproduzirem, se esconderem e salvaguardarem as crias dos predadores. Em aquário poderemos simular essas grutas com tubos PVC ou outros idênticos.

Experiência pessoal: Em Abril de 2008 adquiri 4 indivíduos adultos com tamanhos idênticos e sem sinais de dimorfismo sexual. Estão num aquário com as medidas 60x40x50 cm, com dois tubos PVC a simular as crateras que eles normalmente escavam no seu meio natural mas que em aquário é impossível eles fazerem devido à existência de pouca areia, algumas pedras e um pequeno tronco com alguns fetos de Java.
Em termos de agressividade entre eles e pelo que tenho observado, ela é praticamente nula, raramente se observa algum comportamento agressivo entre eles. Por vezes pode-se observar comportamentos intimidativos mas nunca de agressividade.
Em Julho de 2008 transferi os mesmos para um aquário de 2m juntamente com outras espécies de tanganyikas e outros. Pará já não noto nenhum comportamento reprodutor entre eles. Coloquei uns vazos na aquário para que eles se possam refugiar e terem um local para a reprodução.

Vou dando notícias dos ditos conforme vou tendo novidades!
João Magalhães Ago/2008

sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Metriaclima sp. “membe deep”

Foto do macho
Foto da fêmea
Foto dos alevins
Sinónimos:
Pseudotropheus sp. “membe deep”; Pseudotropheus sp. "msobo membe deep”.
Origem:
Lago Malawi.

Habitat:
A sua distribuição é limitada à costa nordeste de Likoma Island, entre Membe Point e Maingano, onde se encontra num habitat intermédio em profundidades compreendidas entre 15 e 30 metros.

Tamanho :
Os M. membe deep são mbunas de pequeno/médio tamanho atingindo normalmente os 10cm, no entanto a fêmea tem tendência a ficar um pouco mais pequena que o macho com a mesma idade.

Coloração:
Os machos possuem uma cor pouco comum, um azul brilhante misturado com um preto também brilhante (muito parecida à cor dos polit) e as fêmeas são amarelas escuras.

Água: 24 a 28 ºC; Ph: 7.5 a 8.5.

Alimentação:
Os machos desta lindíssima espécie alimentam-se essencialmente de algas, mais conhecidas por aufwuchs enquanto as fêmeas alimentam-se também de plâncton.

Reprodução:
São incubadores bocais, depois do conhecido acasalamento (ritual) em T, a fêmea incuba os seus ovos durante 3 semanas. Explicando melhor: a fêmea põe os seus ovos numa cavidade rochosa ou um buraco feito no solo, o macho fertiliza-os e seguidamente a fêmea insere-os na sua boca muito rápido, tão rápido que por vezes o macho não tem tempo de os fecundar. Ao contrário de outros M’bunas a fêmea é uma boa mãe, já se tem visto que a fêmea apanha os filhotes na sua boca mal sente qualquer ameaça.

Comportamento:
É agressivo e territorial como a maior parte dos seus conterrâneos, convém ter só um macho no aquário que deverá ter um volume de pelo menos 150L e com muitas rochas.
Podemos colocar no aquário só um casal no entanto colocando várias fêmeas conseguimos um aspecto mais colorido. O macho está sempre em movimento, mas não é muito agressivo desde que mantido com outros m’bunas. A fêmea é mais calma mas agressiva para as outras fêmeas da mesma espécie. É um casal de grande beleza com cores muito vivas.
Dia 20/08/2008 uma das fêmeas teve a 1ª ninhada (15). Esta ninhada foi retirada por mim com 20 dias, ainda se notava o saco vitelino em todos os peixes. Hoje 23/08/2008 todos eles já comem bem.

João Magalhães Ago/2008

Manutenção de Mbunas

1. Lago Malawi (breve descrição do lago):

Os Portugueses atingiram as margens do lago o Malawi no início século XVII e David Livingstone (1813-1873), missionário e explorador escocês, redescobriu-o a 16 de Setembro de 1859. Explorando-o várias vezes conseguiu elaborar o primeiro mapa. Em 1861, era acompanhado de Kirk quando encontrou os primeiros Ciclídeos.
O lago Malawi antigamente chamado de Nyassa tem basicamente a mesma aparência geral do lago Tanganyka. O lago Malawi com uma superfície de 26.696 km2 e uma profundidade máxima de 706m, é o nono maior e quarto mais profundo do mundo. A parte mais funda do lago encontra-se na sua zona norte a uma cota 233m abaixo do nível das águas do mar. Como um verdadeiro mar interno, ele estende-se por cerca de 580 Km, enquanto a sua largura varia entre os 30 e os 80 Km. A superfície da água, situa-se a uma altitude de 473m. Como no lago Tanganyka, o lago Malawi também possui uma elevada concentração de sais e um pH alcalino que varia entre 7.7 e 8.8. A dureza carbonatada (KH) é de 6 a 8 dH e a dureza total (GH) é de 4 a 6 dH, a condutividade é de 210 a 335 µSiemens/cm à 20°C, é muito clara, com uma visibilidade até aproximadamente aos 20m.
O lago Malawi é “alimentado” por 14 rios e a única saída é o rio Shire, sendo este o rio mais importante do Malawi. Este rio percorre cerca de 402 Km desde a margem sul do lago Malawi até ao rio Zambezi. O lago Malawi não sofre grandes variações de temperatura ao longo do ano (23-25ºC) no entanto na região sul do lago, a temperatura à superfície do lago pode ter uma variação maior, devido principalmente a duas estações bem distintas: - a estação das chuvas e de temperaturas elevadas no período entre Janeiro e Abril em que as temperaturas à superfície da água poderão chegar aos 29ºC; - a estação seca e fria no período entre Junho e Agosto em que a temperatura da água poderá cair para os 20ºC.
O lago está permanentemente estratificado, ou seja, praticamente não existe mistura entre a água da camada superior e a camada inferior. O lago Malawi encontra-se em condições anóxicas (ausência de CO2) a partir dos 390m de profundidade, logo sem condições de habitabilidade para os peixes.

2. Introdução

Os ciclídeos originários do lago Malawi são conhecidos no mundo da ciência devido à sua proliferação e diversidade e no meio do aquariófilos pela sua beleza e comportamentos incríveis. O lago Malawi como os outros lagos do Este africano são únicos pela sua grande concentração de populações de ciclídeos que quase todos eles são endémicos destes mesmos lagos, ou seja, só podem ser encontrados nestes lagos e em mais lado nenhum. Devido à sua cor lindíssima e comportamentos muito interessantes são os ciclídeos provenientes destes lagos muito procurados e apreciados pelos aficionados pela aquariofilia.
O lago Malawi abriga uma das comunidades piscícolas mais importantes e mais variadas. Actualmente são conhecidas cerca de 700 espécies endémicas e, mesmo entre estas, muitas espécies são encontradas somente em zonas muito pequenas do lago.
Estes ciclídeos, a sua evolução, a sua etiologia, são fonte de numerosos estudos. Não há dúvida nenhuma que ainda teremos muito para aprender e descobrir sobres estes ciclídeos e esperemos que o seu meio natural seja preservado para que se mantenham estas espécies sãs e salvas das agressões do Homem ao meio ambiente.
Os ciclídeos do lago Malawi dividem-se em dois grandes grupos principais:
- Os Não-M’bunas que agrupam géneros como os Aulonocara, os Lethrinops e os chamados “Haplos”.
- Os M’bunas que são peixes de tamanho moderado essencialmente petrículas, muito coloridos e com comportamentos muito interessantes. Estes são muito populares no meio dos aquariófilos. São estes últimos que iremos aprofundar neste artigo com o objectivo de dar a conhecer os aspectos mais importantes no que se refere ao seu comportamento e manutenção em aquário deste grupo tão variado que são os M’bunas.
Quase todas as espécies de ciclídeos do lago Malawi são incubadoras bucais, excepto uma. No que respeita aos M’bunas todos eles praticam incubação bucal maternal, incubando e protegendo os seus ovos na garganta durante a incubação e mesmo já depois dos alevins nascerem.
3. Quem são eles?

O nome M’buna, significa em linguagem local “raspador de pedra” onde se agrupam os géneros seguintes e endémicos do lago Malawi: Cyathochromis, Cynotilapia, Gephyrochromis, Genyochromis, Iodotropheus, Labidochromis, Labeotropheus, Melanochromis, Petrotilapia e Pseudotropheus, Maylandia e Tropheops.
Actualmente há mais de 200 espécies de M’bunas descritas, no entanto o número total de espécies é difícil de estimar, R. Allgayer descreveu 196 em 1987 e Ad Konings refere 212 espécies, descritas ou não, no seu Atlas de 1990. Mas estes números de espécies não são mais que espécies originárias da costa “Malawiana” ou seja toda a costa Oeste, Sul e uma pequena parte da costa Sudeste.
A partir do final dos anos 90 novas espécies apareceram no mercado europeu graça à exploração de outros locais do lago, tais como a costa Nordeste (Tanzânia) e a casta de Moçambique (centro-este) mal explorada ainda.
Duma maneira geral, os M’bunas são espécies petriculas alimentando-se de algas que cobrem as rochas assim como pequenos animais que nelas se escondem.
Convém no entanto assinalar que este comportamento não constitui uma regra, já que certas espécies são, mais ou menos, arenícolas e outras alimentam-se de planton.
Muitas espécies aproveitam este recurso alimentar em épocas de abundância, mesmo não sendo este o seu regime alimentar de base.

4. Um aquário de M’bunas

Mesmo sendo os M’bunas espécies de tamanho moderado, devido a seu comportamento agressivo um aquário para eles deve ser o maior possível, dando principalmente importância ao seu comprimento e largura e menos à sua altura, ou seja quanto mais longo e largo melhor. O mínimo volume que poderá albergar alguns trios (3 a 4) serão 200L (100*40*50) de espécies particularmente calmas e pequenas. Eu diria que um tamanho razoável para manutenção destes peixes será um aquário de 500L, permitindo assim introduzir um maior número de indivíduos, tanto em quantidade como em variedade. Convém também referir que super-povoar o aquário poderá ser um factor de diminuição da agressividade entre eles.
Como valor indicativo habitualmente é aconselhado ter 3 a 4 litros de água para cada cm de peixe adulto, no entanto na minha opinião poderemos “apertar” um pouco esses valores, mas nunca muito longe destes valores. É claro que podemos meter 30 M’bunas num aquário de 200L, mas temos um caso muito sério nas mãos.
Deve evitar-se o uso de troncos já que estes podem baixar o pH.
Com o objectivo de se imitar o seu meio natural, a decoração para os aquários deve incluir muitas rochas que formarão esconderijos para os peixes definirem os seus territórios e também poderem esconder-se e assim se protegerem de agressões por parte dos outros habitantes, no entanto é necessário prever uma área aberta para natação. Deve-se dispor de um aquário bastante largo de maneira a termos uma maior noção de profundidade como também termos uma maior estabilidade da decoração. Quando possível devemos considerar algumas zonas sem rochas e entre estas por forma a criarmos mais facilmente os territórios para os M’bunas. Do ponto de vista estético, devemos ter uma certa homogeneidade nas rochas de decoração, tanto na sua forma como na sua coloração, é claro que tudo depende dos nossos gostos e preferências. O substrato deve ser de um material que ajude as potencialidades do poder tampão do pH da água (buffering). Pode-se por exemplo usar para esse efeito dolomite ou corais esmagados misturados com areia fina. O uso de troncos, ainda que pouco utilizado neste tipo de biótopos, existe em habitats de certas destas espécies como por exemplo os Pseudotropheus sp. “acei”.
No entanto quando usarmos estes troncos devemos sempre ter em consideração que eles podem fazer com que o ph possa baixar devido a terem componentes ácidos, sendo assim devemos providenciar troncos que estejam há muito tempo dentro de água ou mesmo noutros aquário, evitando assim que a presença de substâncias ácidas seja praticamente nula.
Há quem defenda o uso de decorações “fixas” com poleuretano expandido ou poliestireno, muito estéticas quando bem realizados, prevenindo desmoronamentos da decoração, no entanto este tipo de decorações têm várias desvantagens associadas: em primeiro lugar, e como veremos mais à frente, na introdução de novos habitantes e por outro, na captura de peixes em incubação, doentes ou mesmo alevins que tenham nascido no aquário. Por isso eu aconselho decorar um aquário de M’bunas ou outros ciclídeos com características idênticas a estes, com decorações “soltas” e fáceis de remover quando necessitamos de realizar qualquer das operações acima descritas.
No caso de aquários em que o aspecto estético não seja um factor importante, caso por exemplo de aquários de crescimento ou quarentena, poderemos decorar o aquário com uns vasos de flores, tijolos ou qualquer outro acessório de modo a criarmos o maior número de esconderijos para os habitantes.
O uso de plantas quase sempre se torna numa tentativa falhada devido à natureza vegetariana destes ciclídeos africanos. A iluminação não é crítica podendo ser usado qualquer espectro de cor conforme o gosto, no entanto na minha opinião deve-se usar uma iluminação, tanto em quantidade como em qualidade que promova o crescimento de algas.
A composição físico-química da água do lago Malawi difere extremamente de todos biótopos restantes e assemelha-se mais à água do mar do que propriamente à água doce tropical. É uma água doce e alcalina, com alguns valores referidos anteriormente neste documento, valores estes que nem sempre são fáceis de conseguir no aquário. Mas felizmente os peixes têm alguma tolerância a essas condições e adaptam-se a pequenas variações do seu meio. Uma água da torneira dura a semi-dura será conveniente, uma água pouco dura ou macia deverá ser alcalinizada de modo a conseguirmos estabilizar o pH. Para esse efeito existem sais no mercado elaborados especificamente para tal como outros produtos químicos que falaremos mais adiante.
Com uma frase do Ad Konings proferida numa entrevista para a revista da Associação Belga de Ciclídeos, em que ele diz preferir os ciclídeos do Malawi pelas suas cores lindíssimas mas que não os mantém em casa, porque eles só exibem essas cores no lago, ficamos um pouco pensativos e até com alguns problemas de consciência. Esta opinião é partilhada por muitos dos exploradores e cientistas que estudam estes peixes no seu próprio meio, ou seja, todos partilham da mesma ideia: os M’bunas só exibem a suas verdadeiras cores no sei meio natural. E à parte das condições da água eles também consideram que a falta de volume/espaço no aquário também pode ser um factor determinante.
Uma receita muito defendida no meio aquariófilo para aumentar a alcalinidade da água é adicionando Bicarbonato de Sódio de maneira a conseguirmos obter um KH entre 7 e 7,5 o que implica um pH de 8,2. Na revista nº34 de 12/83 da AFC é referida uma receita que se aproxima mais das características físico-químicas do lago (146mg/l de bicarbonato – ¼ de bicarbonato de Potássio + ¾ de bicarbonato de Sódio). Tanto num caso como noutro aconselham a usarmos água desmineralizada. Nos meus aquários uso o bicarbonato de Sódio no momento das mudas de água (água directa da rede pública) conseguindo ter um pH constante e sempre entre 8,2 e 8,4. Se conseguirmos que a água tenha valores de dureza e pH o mais próximos das valores do meio ambiente dos peixes, de certeza que eles ficarão mais coloridos e mais parecidos com os que se vêm no lago.
Também não podemos esquecer que a iluminação tem muita influência na coloração dos peixes, nada conseguirá substituir a iluminação fornecida pelo sol, mas no entanto poderemos simular essa iluminação artificialmente, tanto em quantidade como em qualidade. Algumas marcas existentes no mercado fornecem lâmpadas com um espectro luminoso muito bom para manutenção de peixes de aquário (Biolux, Aquaglo, Aquastar, etc…). Nos meus aquários, uso as Osram 11 860 com 6000ºK combinadas em alguns casos com trifosforos de 10000ºK. As Osram 11 são muito boas, com um espectro muito completo e com uma grande vantagem às existentes nas lojas de aquariofilia: são muito mais baratas. Podemos também adicionar um tubo azul na proporção de 1 W de azul para 3 a 4 W de branca, e assim realçar os tons azuis dos peixes. Não se pode abusar no azul já que corremos o risco de atenuar os amarelos dos peixes. Outro tipo de iluminação que se pode usar nos nossos aquários de M’bunas são as lâmpadas HQI, principalmente no caso dos aquariófilos que possam despender de mais algum dinheiro para a iluminação dos seus aquários. Estas últimas fornecem um fluxo luminoso que realça muito bem as cores dos peixes e combinada com uma boa circulação da água à superfície simulam muito bem as condições naturais. Estas lâmpadas devido ao seu preço e ao consumo energético associado, não se tornam uma boa solução para aquários pequenos ou médios ou para aquariófilos menos afortunados.
Uma constante em todos os aquários de ciclídeos africanos é o teor de oxigénio na água. Ele deverá ser o maior possível, e para isso deveremos usar um bom aquário de decantação (“sump”) ou um filtro semi-húmido alimentados por uma bomba com um caudal de 3 a 5 vezes o volume do aquário por hora. Em aquários pequenos (200 a 300 litros) podemos usar um filtro exterior com capacidade de 7 a 10 vezes o volume por hora, e assim conseguimos manter a água em óptimas condições. Podemos complementar a aeração do aquário com uma bomba de ar ou mesmo colocando um sistema adaptado ao filtro para fazer esse efeito. Não esquecer que a taxa de oxigénio dissolvido na água está pendente da temperatura da água, ou seja, varia inversamente proporcional com esta. Logo termos a água a 25ºC é sempre melhor que ter a água a 28ºC, por outro lado não devemos ter a temperatura abaixo dos 25ºC já que os peixes ficam mais sensíveis e como consequência mais susceptíveis de contrair doenças.
Outra substância que é importante controlar e manter o mais baixa possível, são os nitratos, o que não é muito fácil de obter usando a água da rede pública que geralmente tem uma taxa bastante elevada. Felizmente, os M’bunas suportam bem uma taxa de 100mg/l. Podemos controlar essa taxa de nitratos com as mudas regulares de água (30% todos os 15 dias).

5. Alimentação e Doenças

É difícil separar estes dois pontos. Com efeito, um peixe bem nutrido raramente adoece. Se além disso lhe dermos umas boas condições de habitabilidade e manutenção, pode-se dizer que os M’bunas são “inquebráveis”.

Alimentação:

No que respeita à alimentação deve-se ter em atença dois aspectos: qualidade e variedade.
Para a qualidade teremos que assumir como referência os estudos feitos aos ingredientes encontrados no estômago dos peixes capturados no seu meio natural; em que os resultados dos estudos nos dizem que estes peixes se alimentam basicamente de algas e de pequenos seres que nelas se escondem. A este conhecimento devemos juntar alguma experiência dos aquariófilos que têm conseguido algumas receitas caseiras para substituir o alimento natural.
Todos os alimentos à base de carne, coração de boi, etc… devem ser evitados podendo provocar doenças intestinais dos M’bunas e em doses muito elevadas podem mesmo provocar uma degeneração das células do fígado. No livro “O grande livro dos ciclídeos” ainda vão mais longe, desaconselhando qualquer alimento constituído por substâncias provenientes de mamíferos (leite, carne…) porque as gorduras provenientes de animais de sangue quente são muito difíceis de assimilar pelos peixes a uma temperatura de 25ºC.
Para o alimento de base podemos utilizar uma receita muito usada e testada vezes sem conta, variando apenas nas quantidades:
- 100g de ervilhas congeladas;
- 100g de miolo de camarão congelado;
- 1 colher de sobremesa de Spirulina em pó;
- 10g de gelatina;
- Algumas gotas de vitaminas concentradas.
Podemos ainda complementar essa alimentação de base com pastilhas de spirulina, flocos ou granulados à base de vegetais existentes à venda nas lojas da especialidade. Podemos por vezes também administrar artémia congelada, é um bom complemento aos alimentos atrás referidos.
Outro conselho importante referente à alimentação é no que respeita à quantidade. Os m’bunas são peixes “glutões” que comem tudo que se lhe der, e os resultados são impressionantes, vêm-se por vezes Metriaclima lombardoi com 20 cm e Labidochromis caeruleus com 15 e 16 cm, os quais não ultrapassam os 8 a 12 cm (8 para os mais pequenos e 12 para os maiores) no seu meio natural. Por consequência estes peixes são excessivamente adiposos e com a região pélvica cheia de gordura. Estes peixes são do estilo americano alimentado a oca cola e hambúrguer. Por isso, devemos alimentar os nossos peixes regradamente e em quantidades pequenas de modo a evitar a obesidade. Por vezes convém mesmo deixá-los uns dias de dieta alimentar, já que eles não vão morrer de fome. Nas férias no entanto convém prever uma alimentação mínima, já que estes peixes devido à sua actividade gastam muito rapidamente as suas reservas caloríficas.

As doenças:

Os m’bunas são mais resistentes comparados com os peixes em geral, no entanto também não são tanto como se possa pensar: a esperança de vida em aquário é sensivelmente de 10 anos, mas poucos indivíduos chegam a essa idade. Comparados com certos peixes “indestrutíveis”, tais como os “Plecos”, os grandes Caracídeos, “Labeos”, etc. Eles são mais sensíveis que estes últimos a um certo número de doenças.
Em primeiro lugar podemos falar das doenças cutâneas: os hectoparasitas tais como o Oodinium podem provocar um desastre num aquário doente, super-povoado, mal filtrado e mal areado. A super-população pode facilmente acontecer provocada por uma ou duas ninhadas de alevins soltos pelas suas mães dentro do aquário e não capturados, fazendo aumentar a população num pequeno período de tempo. Como os M’bunas são peixes bastante agressivos, essas agressões são quase constantes num aquário muito povoado. Os machos dominados e as fêmeas são os mais expostos a estas agressões e consequentes danos no corpo do peixe, mas por vezes o macho dominante ou a fêmea alfa podem sofrer agressões no momento de qualquer outro indivíduo querer subir na hierarquia. As feridas provocadas por estas agressões são um ponto susceptível de infecções. Outro dos factores que podem provocar agressões cutâneas e consequentes infecções são as pedras da decoração se tiverem asperidades, é o caso das rochas vulcânicas.
Os M’bunas como todos os outros petrícolas do Tanganyika, são susceptíveis às diferentes formas de hidropsia da qual é difícil de determinar o agente patogénico. Esta infecção é geralmente manifestada através de um “inchasso” do ventre e de carácter muito contagiosa, pode-se propagar por todos os peixes do aquário em pouco tempo.
Para evitar qualquer destas formas de hidropsia e posterior contaminação dos outros indivíduos, será termos sempre cuidado com a alimentação e quando detectarmos que um peixe deixa de comer retiramo-lo imediatamente do aquário comunitário.
Um dos tipos de hidropsia e muito conhecida no seio dos ciclidófilos é a “Malawi bloat”, ou o “inchasso do Malawi” que normalmente é associado à má alimentação e a condições da água menos boas. Esta doença não é só característica destes peixes, mas também muito frequente no Tropheus do Tanganyika.

6. Reprodução dos M’bunas:

Existe uma opinião comum no seio da aquariofilia: a reprodução dos M’bunas é muito fácil. Eles fazem parte das espécies que dão as primeiras vitórias de criadores aos iniciados em aquariofilia. Não nos podemos esquecer do entusiasmo e a alegria que tivemos quando tivemos as nossas primeiras crias, minúsculas a vaguearem pelo aquário.
Todos eles são incubadores bucais e todos se reproduzem da mesma forma, ou seja, todos acasalam da forma “posição em T” e todo o ritual que este tipo de acasalamento requer. A “posição em T” é alternada entre o macho e a fêmea.
A poligamia é uma regra absoluta nestas espécies, nunca há formação de casais e há sempre mais tolerância entre indivíduos de sexo oposto quando têm territórios próximos. O ritual antes do acasalamento só diz respeito ao macho, enquanto a incubação dos ovos e posterior protecção da prole cabe esta tarefa unicamente à fêmea.
Geralmente é possível apreciar certas diferenças no que respeita aos locais preferidos para o ritual de acasalamento. Algumas espécies preferem a postura nas cavidades entre as rochas, outras preferem fazê-lo sobre uma rocha plana, outras ainda poderão fazê-lo em rochas junto do substrato, fazem antes uma cova para a postura.
Os M’bunas são uns excelentes pais e que evoluíram no sentido de conseguirem com alguma astúcia proteger os seus filhos e terem sucesso na proliferação das suas espécies num ambiente tão austero e com vários predadores destes pequenos peixes.
No lago Malawi não vemos comportamentos tão variados de reprodução como no lago Tanganyika, onde desenvolveram comportamentos muito diferentes uns dos outros de modo a conseguirem a proliferação das espécies num habitat repleto de predadores.
Após o acasalamento, e após a fêmea ter já os ovos todos na cavidade bocal, procura uma cavidade entre a decoração e lá fica escondida e protegida dos ataques do macho. Esta fase de incubação dura geralmente 3 semanas, por vezes menos desde que a fêmea não sinta predadores por perto.
É sempre possível “pescar” a fêmea antes desta largar os alevins (2 semanas) e forçá-la a largas os seus filhos. A captura quase sempre se torna num processo bastante difícil e demorado. Nestes casos o método mais simples será retirar a decoração para facilitar o processo de captura e assim diminuirmos o stress que a fêmea vai sofrer.
O espaço entre ninhadas da mesma fêmea anda em redor dos 2 meses, sem contar com o período de incubação.
Os alevins expulsos no aquário comunitário na sua generalidade serão considerados alimento pelos outros adultos, no entanto alguns deles escapam à depredação e depois de atingirem os 2 cm já serão bem suportados pelos adultos que praticamente os ignoram.
A manutenção dos pequenos peixes num aquário específico de crescimento, não representa qualquer tipo de dificuldade devido ao tamanho destes ser de aproximadamente 1 cm conseguindo comer comida em pó e artémia recém-eclodida.
Os jovens conseguirão atingir a sua maturidade sexual aos 7 meses aproximadamente. É preferível não deixar incubar as fêmeas muito cedo já que isso pode comprometer o seu crescimento, podendo atrofiá-las.
Note-se que para haver sucesso na reprodução devemos ter um macho de tamanho superior ao das fêmeas, caso contrário será difícil conseguir, pelo simples facto de a fêmea não aceitar um macho que não a consiga dominar. Por vezes acontece que temos uma fêmea mais velha num aquário entre outros da mesma espécies mais novos, ela neste caso dominará o aquário e terá comportamentos próximos dum macho dominante, impedindo os jovens machos de tentarem qualquer tipo de acasalamento.

7. Escolha das espécies para o nosso aquário:


Como já referido anteriormente, a variedade de espécies é grande, e cada vez maior.
Em primeiro lugar, mesmo que não seja muito diplomático, é preciso encorajar os aficionados a escolher o seu lojista. Temos que admitir que os lojistas que sabem o que vendem, são muito raros. Encontram-se muitas lojas a vender M’bunas originários de criações Sudoeste asiático que nada têm a ver com as espécies encontradas no seu meio natural e nada têm a ver com a verdadeira fonte selvagem, e por isso os híbridos são cada vez mais encontrados no mercado da aquariofilia.
A escolha do lojista implica por vezes visitarmos vários e percorrer alguns Quilómetros até encontramos aquele que nos sabe informar e com espécies bem catalogadas e com proveniências de confiança. Por vezes não encontramos aquilo que queremos, mas não é por isso que vamos comprar tudo aquilo que se mexe nos aquários.
Antes de mais devemos excluir das nossas aquisições a espécie Genyochromis mento (um comedor de escamas e barbatanas), pelas razões evidentes, e praticamente todas as espécies de Petrotilapia desde excepto se tivermos um aquário parecido com uma pequena piscina.
Seguidamente, nunca devemos adquirir peixes com um aspecto idêntico (na cor), como por exemplo o Melanochromis johannii, Pseudotropheus saulosi e os Metriaclima msobo magunga, porque as fêmeas são praticamente iguais, sendo pouco conveniente correr tais riscos de hibridação. Estes riscos são aumentados quando temos espécies pertencentes ao mesmo género ou do mesmo grupo, caso dos Pseudotropheus zebra (entre eles), os M. greshakei, os M. callainos, os M. estherae, etc. No entanto espécies distintas mesmo pertencentes ao mesmo grupo ou género poderão coabitar facilmente sem grandes problemas de hibridações. Assim poderemos por exemplo misturar P. elongatus com Metriaclima zebra com Tropheops. É de salientar que em todo caso não é conveniente manter variedades geográficas da mesma espécie.
Como regra geral, e para evitar hibridações, é preciso evitar manter um sujeito sozinho. Se for uma fêmea em incubação mais de 24 horas, é fácil de detectar uma hibridação, se pelo contrário, for um macho dominante nunca saberemos se eventualmente acasalou com uma fêmea de outra espécie na qual o macho se deixou dominar.
De salientar também que no momento de adquirirmos os peixes, e principalmente se estivermos a pensar em criações, devemos procurar fontes de confiança e tentar comprar uns 4 ou 5 peixes jovens de 2 fontes diferentes, prevenindo assim a consanguinidade. No entanto o crescimento dos peixes deve ser feito em aquários separados, porque senão depois não sabemos quais são os de uma ou outra origem.


8. Compatibilidade e Agressividade:

Se em parte podemos dizer que existe uma grande homogeneidade entre as várias espécies de M’bunas, tanto na cor, como no tamanho e constituição física, já podemos dizer que esta existe no que se refere ao seu comportamento. O seu comportamento espectacular e goza de uma diversidade que raramente se vê em outro tipo de géneros de peixes. Tanto devido ao seu hábito de constituírem territórios como pelo facto de serem poligâmicos e lutarem por um lugar hierárquico superior e assim terem o “direito” de acasalar com as fêmeas do aquário.
Consequentemente, podemos sim dizer que o comportamento (grau de territorialidade e agressividade) está longe de ser uniforme. Certas espécies podem ser consideradas calmas e pouco agressivas enquanto que outras podem são muito agressivas e com um comportamento menos bom para se manterem com as primeiras. Nestes últimos temos por vezes um grau de territorialidade muito acentuado também nas fêmeas.
Existem outros casos que a territorialidade é unicamente intra-específica, os indivíduos de outras espécies distintas são simplesmente ignorados. Por exemplo, no caso dos Melanochromis, não são territoriais, no entanto isso não os impede de serem muito agressivos e que quase sempre assumem a topo da hierarquia no aquário. Nem só a sua agressividade faz deles os mais fortes mas também o seu tamanho e a sua técnica de combate, em movimentos circulares muito apertados que qualquer outro grupo de M’bunas de tamanho equivalente consegue realizar.
Assim, ao contrário do que muito aquariófilos pensam, estes peixes são insuportáveis e impossíveis de manter num aquário pequeno, não é devido à sua territorialidade mas sim à sua agressividade inter e intra-específica.
Posto isto, poderemos dizer que a hierarquia e a harmonia do nosso aquário depende das espécies que escolhemos, tendo sempre em consideração o seu tamanho, territorialidade, agressividade, técnicas de combate, etc.
Relativamente a estes dois aspectos, posso afirmar que nos meus dois aquários de M’bunas que mantenho com muito orgulho e empenho, ambos possuem uma harmonia ideal ou perto disso. Ambos conseguem manter-se com uma agressividade moderada e isentos de casos de hibridações. Um deles está hierarquicamente dominado por um Labeotropheus fuelleborni (muito maior que os restantes) praticamente isento de agressividade inter específica mas que dado o seu tamanho consegue manter o respeito perante os restantes e manter um equilíbrio no aquário. No outro, é um caso totalmente distinto do primeiro, neste aquário mantenho espécies distintas entre si e todas elas aproximadamente do mesmo tamanho e agressividade idênticas. Tanto um como outro consegue-se observar o comportamento dominante de todos os machos das diferentes espécies, e como consequência ter o privilégio de periodicamente ninhadas de alevins serem vistas vaguearem pelo aquário, sem nunca haver casos críticos de agressividade entre eles.
Como conclusão, existem vários factores a serem considerados no momento de povoarmos o nosso aquário seja ele de que tamanho for, que passo a referir aqueles que me parecem mais importantes e alguns já abordados anteriormente e outros o serão mais adiante:
- Tamanho;
- Agressividade;
- Técnicas de combate e o vigor com que defendem o seu território;
- Comportamentos inter e intra específico;
- Padrão de cor.

9. Comportamento:


Recordemos em primeiro lugar dois conceitos importantes para falar deste assunto:
- Comportamentos inter específicos (entre indivíduos de espécies diferentes);
- Comportamentos intra-específicos (entre indivíduos da mesma espécie).
Em geral o comportamento inter específico é bom desde que mantidos em boas condições tanto de compatibilidade como de manutenção, como algumas que já foram aqui referidas. Também é evidente que colocar um Melanochromis auratus num aquários com alguns neons, o seu comportamento inter específico não será dos melhores. Este exemplo extremo é para demonstrar apenas algumas das asneiras que eram cometidas nos anos 70 e que ainda se cometem por aquariófilos menos informados e que querem iniciar o hobby sem tentarem primeiro estudar as espécies que vão adquirir. O mesmo Melanochromis auratus colocado num aquário de 500l com outros M’bunas terá um comportamento razoável perante os outros habitantes (não podemos dizer no entanto que esta espécie seja particularmente calma e sociável).
Por outro lado, o comportamento intra-específico dos M’bunas é “mau”, principalmente entre os machos, já para as fêmeas é razoável na maioria das situações. Com efeito, é muito difícil ou quase impossível manter dois machos juntos num aquário relativamente pequeno, já num aquário de dimensões razoáveis poderá ser possível eles conviverem sem grandes “guerras” entre si. As fêmeas convivem bem juntas no aquário sem se importunarem muito umas às outras, excepto em alguns casos no período de incubação, em que estão na sua “toca” e poderão expulsar qualquer indivíduo que se aproxime delas, mas nada que se compare com a agressividade dos machos.

10. Compatibilidade com outras espécies:

Mesmo se o hábito duma grande parte dos aquariófilos é de manter os M’bunas com outros M’bunas, isto não é uma regra, eles conseguem ser bons companheiros de outras espécies.
É o caso por exemplo de outros ciclídeos do Malawi, como os do género “Aulonocara”, principalmente a espécie Aulonocara jacobfreibergi, que sendo peixes com uma agressividade idêntica, se conseguem manter juntos sem grandes problemas. Os grandes “Haplos”, como por exemplo os Placidochromis electra e os Othopharynx lithobates, que são peixes bastante robustos também coabitam com eles sem grandes problemas, excepto quando mantidos com M’bunas mais agressivos do tipo Melanochromis auratus que os podem inibir de se reproduzirem ou no caso de o conseguirem terão alguma dificuldade em guardar os ovos no momento do acasalamento.
Outros ciclídeos africanos poderão coabitar com eles, desde os “Tropheus” originários do lago Tanganyika (neste caso convém que estes sejam introduzidos depois), os “Haplochromis” do lago Vitória, como também outros ciclídeos fluviais africanos com tamanho e agressividade idênticas.
Outras espécies podem ser introduzidas e que não pertencem à família “cichlidae”, é o caso dos grandes “Caracídeos” e dos grandes “Cyprinídeos”.
Peixes de fundo como os Synodontis multipunctatus, os Synodontis nyassae, os Synodontis petricola, entre outros também são companheiros excelentes.
Outra espécie que se dá muito bem num aquário de M’bunas, e que eu mantenho já há alguns anos, é o Gyrinocheilos aymonieri, é uma espécie bastante vivacidade e que não se deixa intimidar pelos “briguentos” M’bunas como também tem a vantagem de ser um excelente limpador das paredes do aquário.
Outras espécies poderiam ser aqui referidas, o importante o momento de escolhermos os companheiros para os nossos M’bunas, será termos em conta todos os parâmetros de agressividade, alimentação, características da água e outros… que devemos considerar em todos os tipos de biótopos sejam eles quais forem.
11. Algumas espécies existentes de M’bunas:

Neste tópico vou descrever algumas espécies que mantenho em casa e que são bastante comuns no comércio de aquariofilia em Portugal. Seria muito difícil falar delas todas já que estamos a falar de mais de 200 espécies. Destas que vou falar, irei tentar fazer uma pequena descrição tendo em conta alguns aspectos importantes do seu comportamento e todas as outras características que possam ser relevantes à sua manutenção.

Labeotropheus fuelleborni


Esta espécie faz parte dum grupo de M’bunas considerados de “grande porte” onde normalmente são incluídos os seguintes grupos: Petrotilapia, Pseudotropheus crabro, Grandes Melanochromis (chipokae, parallelus, vermivorus), Pseudotropheus elegans, "Melanochromis" labrosus, Maylandia zebra, Maylandia lombardoi, Maylandia hajomaylandi,etc.
Habitat natural: espécie endémica do lago Malawi, encontrado em quase todas as zonas superficiais e rochosas do lago, é encontrado somente até aos sete metros de profundidade.
Tamanho e forma do corpo: o seu tamanho varia desde a população maior que é encontrada em Chirwa Island na parte Sul de Chilumba na qual os machos podem atingir os 18 cm, até à população originária de Selewa na costa Noroeste, na qual os machos atingem somente os 10 cm. As fêmeas são cerca de 25% mais pequenas.
O corpo é alongado e moderadamente comprimido sobre os flancos, ligeiramente mais alto que o do seu aparentado Labeotropheus trewavasae. A boca é muito aberta a toda a largura da cabeça. O lábio superior é hiper-desenvolvido e o nariz é carnudo a cai sobre a boca. Este formato da boca permite que ele consiga “ripar” as algas das rochas sem precisas de se colocar na posição vertical como acontece com os restantes M’bunas.
Coloração e diferenças sexuais: as fêmeas de todas as populações são praticamente da mesma cor, ou seja, são todas castanhas acinzentadas com uma dezena de riscas transversais ao longo do corpo.
Fora deste padrão de cor, existem as variedades “OB” (Orange blotch) e/ou as “O” (Orange). Em certas populações a percentagem de OBs e Os atingem os 50%.
A cor dos machos varia em função das populações, mas a sua cor de base é o azul mais ou menos intenso e com reflexos amarelos. Podem também ser encontrados na sua variante OB. Em função das variedades geográficas uma cor particular pode ser encontrada sobre os flancos e barbatanas.
Obviamente, é muito simples de distinguir os machos das fêmeas no seu tamanho adulto, no entanto poderá ser mais difícil nas variantes “O” e “OB”, mas mesmo nestas os machos têm normalmente reflexos azuis.
Comportamento e alimentação em aquário: como quase todos os M’bunas são muito agressivos perante os da mesma espécie mas bastante tolerantes para as outras. Dado o seu tamanho normalmente dominam o aquário se este for relativamente pequeno.
Quanto à sua alimentação, devemos administrar muita quantidade de matéria vegetal, dado que esta espécie e principalmente herbívora alimentando-se no seu meio natural de algas de pequenos invertebrados que nelas se encontram. (Aufwuchs).
Reproduz-se praticando o ritual do acasalamento em T, como já referido e como todos os outros M’bunas.
Aquário: devemos providenciar um aquário bastante grande, sempre que possível acima dos 300l, com uma decoração rochosa. As condições da água devem ser o mais próximas das do seu meio ambiente (pH >7,5; GH 4 a 5; temp.: 24 a 28 ºC).

Cynotilapia afra

Ao contrário dos anteriores, estes pertencem ao grupo dos M’bunas mais pequenos, onde são normalmente incluídas outras espécies, como: parte dos Labidochromis; dos Pseudotropheus lanisticula, etc.
Habitat natural: são originários da costa Norte do lago (Tanzânia e Moçambique).
Tamanho e forma do corpo: geralmente o seu tamanho varia entre os 7 e 8 cm podendo em cativeiro crescer um pouco mais (10 cm). O seu corpo é alongado e ligeiramente achatado nos flancos, muito parecidos com os Maylandia zebra, conseguindo distinguir-se facilmente destes pela sua dentição particular e caniniforme, donde vem o seu nome Cynotilapia.
Coloração e diferenças sexuais: as fêmeas são acastanhadas, umas mais escuras que outras em função do local onde são capturadas. A cor dos machos é à base de azul com riscas escuras ao longo do corpo. Dependendo das populações podem ser encontrados machos com a barbatana dorsal branca, amarela ou alaranjada, como também podem ter a presença da cor amarela na zona superior do corpo, que é o caso dos Cynotilapia afra “Cobwe”. A fêmea desta variedade tem uma cor mais clara que a maior parte das outras variedades geográficas.
Os alevins nascem com uma cor acinzentada e rapidamente ficam parecidos com os pais.
Comportamento e alimentação em aquário: têm um comportamento intra-específico menos mau do que outras espécies, e toleram bem os de outras espécies, desde que distintos em termos de coloração.
No seu habitat natural, esta espécie alimenta-se basicamente de plâncton mas também das algas presas às rochas, principalmente os machos dominantes e territoriais. Em aquário, eles aceitarão quase tudo, mas convém dar-lhes sempre comida de origem vegetal em quantidades razoáveis.
Reproduz-se praticando o ritual do acasalamento em T, como já referido e como todos os outros M’bunas.
Evitar mantê-los com outros com um padrão idêntico de cor (azul com riscas escuras transversais).
Aquário: dado o seu tamanho poderemos manter esta espécie num aquário com um volume a partir dos 150l, decorado com bastantes rochas e mantendo de preferência um macho e várias fêmeas. As condições da água são iguais a todos os outros, sempre o mais próximas das condições que eles têm no seu meio natural.
Conclusão: esta espécie em qualquer das suas variedades geográficas, é uma espécie muito interessante em termos de comportamento, muito colorida e adequada à maior parte dos nossos aquários, já que neste momento o aquário “standard” em Portugal será o de 200l, sendo este já um volume para podermos colocar esta espécie com mais 2 ou 3 espécies em boas condições de habitabilidade.

Metriaclima estherae

Esta espécie pertence ao grupo dos Pseudotropheus zebra, que são os M’bunas mas clássicos do mercado, de tamanho e agressividades médias. Actualmente o termo “Pseudotropheus” já não tem qualquer sentido ser usado devido à sua evolução para o termo “Metriaclima”.
Habitat natural: estes peixes são encontrados ao longo de toda a costa Este do lago (Metangula, Meluluca, Minos reef, etc.).
Tamanho e forma do corpo: o corpo é alongado e robusto como todos os outros “zebras”. Esta espécie tem um tamanho que varia entre os 10 e 12 cm, um pouco menos para as fêmeas.
Coloração e diferenças sexuais: a cor original desta espécie no seu habitat natural é o azul e para as fêmeas um azul mais terno a cinzento. No entanto esta variedade é quase impossível de encontrarmos no mercado.
A variedade de “Minos reef” é absolutamente a mais popular e mais comum no comércio da aquariofilia, devido à cor azul celeste muito bonita dos machos e principalmente à cor laranja viva das fêmeas nas variantes “O” e “OB”, sendo as “O” mais encontradas e raramente vemos a variante “OB”. Por outro lado os machos nas variantes “O” e “OB” não são facilmente encontrados.
Os alevins da população “Minos reef” nascem cor-de-laranja vivo, são parecidos com as mães, parecendo uns adultos em miniatura.
Comportamento e alimentação em aquário: o seu comportamento é idêntico à maior parte dos M’bunas, o que quer dizer que se tornam agressivos entre os da mesma espécie e outros com padrões de cor parecidos, tolerando bem os de outras espécies.
A sua reprodução é igual a todos os outros M’bunas: acasalamento em T; posteriormente a fêmea irá incubar os seus ovos durante um período que varia entre as 3 e 4 semanas. Durante a incubação a fêmea quase que não come, apenas apanhando pequenas partículas de comida que passam perto delas, mantendo-se praticamente todo o tempo escondidas nas rochas.
No seu meio natural eles alimentam-se à base de algas e microrganismos que têm estas como seu refúgio (Aufwuchs) mas também já se têm observado a nadar em águas abertas alimentando-se de plâncton.
No aquário, como acontece com os outros M’bunas, pode-se dar qualquer alimento (granulado ou flocos) à venda em qualquer loja, desde que com baixo teor em proteínas animais. A “receita” acima mencionada estará muito bem para eles.
Aquário: o aquário deverá ter no mínimo 200l e decorado com muitas pedras proporcionando esconderijos para os mais fracos e para as fêmeas durante a incubação.
Para os mantermos em boas condições não precisamos mais do que olharmos para o que se passa no seu meio natural destes e outros incubadores bucais, vivendo em comunidades formadas por várias fêmeas e um único macho que acasala com elas todas. Seria portanto incorrecto colocar mais do que um macho no mesmo aquário. Nestas situações um ficaria sempre dominado e provavelmente até poderá ser morto pelo dominante.
Observações: como consequência da sua popularidade e facilidade em reproduzir esta espécie, vemos no comércio variantes completamente degeneradas e que nada têm a ver com os selvagens. Vemos fêmeas das mais variadas cores, desde o branco ao laranja vivo (quase vermelho) como vemos machos azuis, laranjas, amarelo pálido quase brancos. O mais absurdo ainda é que se vêm catalogados como sendo espécies diferentes ou então simplesmente os denominam como “red zebra” ou “blue zebra”, e não são mais do que “misturas” entre variedades geográficas da espécie.
Para além destas espécies, ainda mantenho nos meus aquários outras, tais como: Os Pseudotropheus zebra sp. “red top”, os Metriaclima msobo magunga reef, os Tropheops sp. “red fin”, os Pseudotropheus elongatus mpanga, os Metriaclima sp. membe deep, os Pseudotropheus sp. elongatus chailosi e muitos outros.
Muitas mais espécies poderiam ser abordadas e descritas, no entanto estaríamos aqui uns meses a escrever e provavelmente não conseguiria abordá-las todas e quando estivesse na ultima da lista, provavelmente já tinham sido descobertas mais umas quantas espécies.

Conclusão:

Mas em todo caso, e ficando muito por dizer, considero que o que foi abordado será suficiente para qualquer aficionado se iniciar no “mundo” dos M’bunas e tenho a certeza que nunca se irá arrepender de o ter feito. O mais provável é que depois de montar o seu primeiro aquário de M’bunas, queira montar o segundo ou então evoluir para um com o dobro do tamanho.
O que eu mais espero é que tenha contribuído para o vosso sucesso com estes maravilhosos peixes e que os mantenham com as melhores condições possíveis evitando sempre cometer esses “erros de palmatória” já referidos anteriormente, que muito de nós cometemos no início e que muitos lojistas e criadores cometem propositadamente, tendo sempre e só o objectivo de ganhar mais e sempre mais com os pobres dos peixes que não têm culpa nenhuma dos nossos erros e da nossa ganância.
O meu muito obrigado por conseguirem chegar ao fim do artigo sem desistirem antes!