sábado, 23 de agosto de 2008

Eretmodus cyanostictus – Boulenger 1898

Fotos:
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Introdução
O grupo de peixes conhecidos pelo nome de «ciclídeos gobbie” compreende quatro espécies descritas e talvez duas não descritas ainda. Todas estas espécies estão adaptadas a águas turbulentas no limite superior do habitat rochoso do lago Tanganyika. Estas adaptações traduzem-se por uma redução da bexiga-natatória que permite ao peixe “colar-se” ao fundo imediatamente quando deixa de nadar.
Estes pequenos ciclídeos, nenhum de entre eles passa o tamanho de 8cm de comprimento no meio natural, vivem nas zonas de pequenas rochas situadas junto da costa, mesmo na extremidade da superfície da água do lago, que, pela acção das ondas, a água é muito rica em oxigénio. Manter uma taxa elevada de oxigénio é um dos parâmetros mais importantes para manter estes peixes em aquário. No caso contrário, eles refugiam-se à superfície do aquário ou mesmo na zona à saída da bomba, sinal de uma deficiência de oxigénio dissolvido. Desde que a taxa de oxigénio dissolvido seja suficiente, estes peixes passeiam-se por todo o aquário, tendo assim um comportamento natural e muito activo.
O Eretmodus Cyanostictus é um ciclídeo que encontramos ocasionalmente nos aquários de venda das lojas. A sua face « apalhaçada » é muitas vezes a razão de os comprarmos. E a partir desse momento nunca mais deixamos de os ter. É muitas vezes também chamado de « ciclídeo gobby » devido às suas semelhanças dos gobbys marinhos. Podemos encontrar este ciclídeo quase em toda a extenção do lago Tanganyika sobre diversas formas ou variantes diferentes : o seu padrão de cor varia consideravelmente segundo o seu local de captura.
O Eretmodus cyanostictus habita a zona superior da água, zona esse denominada pelo Ad Konings nos seus livros como « habitat superficial onduloso ». Ele é raramente encontrado a mais de três metros de profundidade. Normalmente vivem em casais mas não defendem nunhum território específico. Como colonizaram as margens rochosas de pequena profundidade, podemos dizer com alguma ironia que é o único ciclídeo que podemos capturar sem meter os pés na água !
Um dos principais aspectos que nos leva a simpatizar com estes ciclídeos, não falando no seu aspecto cómico e o seu modo de reprodução espetacular, é a sua cor escura com pintas por todo o corpo azuis turquesa eléctricas.
Cyanostictus é uma palavra de origem grega composta de « kyaneos » - azul e « stigma » - marca. Com efeito, o contorno da boca é azul e algumas pintas da mesma cor percorrem a cabeça e na maioria dos casos o corpo também, a quantidade destas pintas varia com o lugar onde são capturados. Estas cores intensificam-se na época do acasalamento, é aqui que eles ficam verdadeiramente magníficos.
No lago, os Eretmodus vivem junto das rochas passando os dias a arrancar a rica cobertura biológica para comerem as algas e pequenos invertebrados que nelas se alojam. Neste habitat que recebendo uma quantidade elevada de luz solar consequência da sua pequena profundidade, as pedras encontram-se cobertas de uma grande quantidade de algas, sendo aqui que eles se alimentam e conseguem combater o seu apetite voraz.
Toda a via, podemos dizer que os seus dentes cor-de-laranja que sobressaem na boca estão perfeitamente adaptados para raspar as superfícies das pedras. No aquário, eles reproduzem este comportamento raspando os vidros, as pedras, as folhas mais largas das anúbias.
A sua facilidade de captura no seu meio natural é a principal razão de quase todos os Eretmodus que encontramos no mercado serem selvagens. Com efeito, a introdução de peixes de origem selvagem no aquário é por vezes a causa da introdução de germes patogénicos (hexamita, doença do buraco na cabeça, etc…) dentro do aquário, contra as quais estes peixes são imunes mas os peixes que temos no aquário não o são. Por esta razão devemos tratar preventivamente todos os peixes de origem selvagem num aquário hospital, com Flagyl, antes de os introduzirmos no aquário principal. De qualquer maneira, e na maior parte dos casos esta desparasitação é efectuada no exportador.
A dose recomendada para este tratamento preventivo será de 500 a 1000mg para 100L, ou seja, 2 a 4 pastilhas de 250mg para cada 100L de água, repetindo este tratamento 3 vezes com 48 horas de intervalo entre cada tratamento. Não é necessário renovar a água durante nem depois do tratamento. Como diz o ditado : mais vale prevenir que remediar…

DistribuiçãoGeográfica
Em 1988, Boulenger descreveu o Eretmodus cyanostictus a partir de espécimes capturados perto de Mpulungu (Zâmbia), conhecido até então por “Kinyamkolo”. Na parte sul do lago, é a única espécie de ciclídeos gobbi presente e contrariamente na metade norte do lago, esta espécie vive na companhia de três outras espécies: Spathodus erythrodon e o Tanganyicodus irsacae na maior parcela desta metade do lago e do Spathodus marlieri nas águas do Burundi.
A maior parte dos Eretmodus que encontramos à venda no mercado e consequentemente nos nossos aquários são provenientes do Burundi, e apenas alguns exemplares são exportados da Zâmbia. Não há certezas que a população proveniente do Burundi seja da mesma espécie, actualmente os Eretmodus provenientes do Burundi e de toda a parte Norte do lago são classificados como Eretmodus sp. Norte Cyanustictus.
Um facto é que ele partilha o seu habitat com três outras espécies e que provavelmente foi afastado da sua zona de predilecção desenvolvendo um comportamento alimentar diferente.
Se compararmos estas duas formas ou variantes, poderemos constactar que os Eretmodus Cyanostictus do sul têm uma boca mais terminal (ponteaguda) do que a variante do Burundi. Se esta diferença estiver presente em todas as populações, devemos considerar estas duas formas como sendo espécies diferentes, e como tal não devemos juntá-las nos nossos aquários.
Ao longo do tempo, diversas variantes geográficas de Eretmodus foram exportadas e outras ainda são encontradas pela 1ª vez no lago. Estas diferenças, algumas mais significativas que outras, não são tão evidentes que entre outras espécies de incubadores bucais do lago, no entanto é desaconcelhado juntarem-se duas variantes de Eretmodus no mesmo aquário.

Origem
É muito provável que os ciclídeos gobie do lago tanganyika e as espécies do género Schwetzochromis, que continuam a viver nos estuários, tenham um ancestral comum.
S. Malagaraziensis pode ser encontrado unicamente no delta do Malagarazi e este incubador bocal vive principalmente em zonas muito movimentadas pela corrente.
Ainda não se sabe se este peixe tem um comportamento reprodutor de incubação biparental, mas de qualquer maneira é muito parecido aos gobies do tanganyika. O macho e a fêmea Schwetzochromis têm a mesma cor, o que poderá ser um indicador para eles não adoptarem a incubação maternal, tanto que os machos são desprovidos de ocelos pelo que não poderão “reproduzir” ou simular os ovos na barbatana anal.
Nenhum ciclídeos gobi apresenta acelos na barbatana anal. A primeira espécie muito parecida com os Schwetzochromis e que se adaptou a viver no seio do lago poderá ser o Simochromis marlieri. Em consequaência do seu regime omnívoro, uma especialização voltada para as algas poderá ter acontecido (Eretmodus) ou ter evoluído para os invertebrados (Tanganicodus). Estas espécies melhor adaptadas foram capazes de se reproduzir facilmente no lago, e o S. marlieri (mas rudimentar) ficou-se pelas zonas envolventes do delta de Malagarazi.

Alimentação
O seu comportamento alimentar na natureza indica-nos o que fazer para os alimentarmos no aquário. Devemos ter em conta a sua especialização vegetariana. Como todos os outros peixes vegetarianos, os eretmodus têm um aparelho digestivo particularmente long, ao contrário dos peixes carnívoros, que o têm muito curto. Assim, se alimentarmos o eretmodus com inseptos ou coração de boi, ou outros alimentos ricos em proteinas, mais tarde ou mais cedo temos os nossos eretmodus mortos.
Devemos incluir no seu menu uma percentagem elevada de vegetais, tais como a spirulina. Temos também um alimento indicado para eles: a papa que se faz também para os mbunas do malawi.
Ad Konings, refere que se deve evitar a todo custo dar-lhes artémia, um alimento que em pouco tempo lhes pode causar distúrbios intestinais, à excepção de quando são alevins podendo-se complementar a sua alimentação com artémia recém nascida.
Em todo caso os eretmodus são peixes "glutões", comem que se fartam, normalmente no fim da refeição ficam com uma barriga bem redondinha e gorda, no entanto, devemos ter cuidado com a quantidade de comida administrada porque podemos estar a dar demais e assim poluirmos a água do aquário.

Reprodução
Quando um casal está pronto para se reproduzir, escolhe uma pedra mais ou menos plana e é debaixo desta que se desenrola todo o ritual. Os dois parceiros colocam-se lado a lado e a fêmea roda em círculos em torno de si própria. Em cada volta ela vai largando um ou mais ovos os quais são apanhados na volta seguinte. O macho também roda sobre si próprio largando o esperma nos locais onde a fêmea vai largando os ovos. A fecundação dos ovos parece ser feita no local de postura e não na boca da fêmea que vai mordendo a barbatana anal do macho provavelmente para avaliar o seu esperma. Entre 10 e 30 ovos são postos durante o acasalamento, os quais vão ser incubados pela fêmea nos primeiros 12 dias seguintes à postura. Em vez do comportamento clássico praticado pelos incubadores bucais do tipo maternal, os Eretmodus são incubadores bucais bi-parentais. Este modo de reprodução constitui um método intermédio entre os que põem sobre o substrato e os incubadores bucais maternais. Passados os 12 dias de incubação, a fêmea dá a entender ao macho que lhe vai passar as larvas. Os ovos neste momento ainda não atingiram o seu estado final de desenvolvimento, apenas de vê uma cabeça minúscula e uma cauda muito finas agarradas ao ovo (saco vitelino) do qual eles se alimentam até ao seu desenvolvimento final. O casal procede então à passagem dos alevins. O macho vai recolhe-los e incubá-los durante mais 12 dias aproximadamente. Passados estes dias ele irá largas os alevins que são cópias exactas dos pais em tamanho reduzido e que medem aproximadamente 8 a 10 cm.
Normalmente, e devido principalmente à inexperiência do casal, a fêmea incuba os ovos sozinha durante os 24 dias, mas contudo depois da 2ª ou 3ª incubação normaliza e o macho começa a incubar os ovos ao fim do tempo previsto.
Os alevins nascidos, tendo em conta que o casal não cuida deles após o seu nascimento, podem ser capturados e separados num aquário de crescimento e alimentados com comida reduzida a pó, larvas de artémia, ou outro alimento que eles possam comer.

Conclusão
Se por acaso tiverem oportunidade de encontrar Eretmodus Cyanostictus em alguma loja de aquariofilia e se tiverem um aquário vazio para eles, não exitem em comprá-los e experimentar manter estes belos “palhaços” do Tanganyika, com um comportamento geral e reprodutivo foram do comum e muito interessante. Se experimentarem, podem ter a certeza que não se vão arrepender, irão ficar fascinados com estes pequenos peixes.
Neste momento tenho 2 casais reprodutores, um casal Eretmodus cyanostictus zâmbia e um casal Eretmodus cyanostictus kasanga (os apresentados nas fotos). Os zâmbia já tiveram várias reproduções, os kasanga vão na 2ª reprodução (uma a crescer no aquário de crescimento (cerca de 20 alevins) e a 2ª ainda na boca da fêmea!
João Magalhães 23/08/2008

2 comentários:

  1. boas...
    muito boa a informsção dos eretmodus...tenho um casal selvagem á cerca de uma semana...e tenho tado a pesquisar sobre eles...e deu para tirar boas dicas do teu texto...

    abraço.

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  2. de facto espécie bastante interessante...espero mais post´s..


    abraço

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